“Golpe é efetivação do vazio das emoções”, diz Marcia Tiburi na abertura do Encontro

Publicado em 05 de agosto de 2016 às 07h38min

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Com a afirmativa de que o golpe em curso no país é a efetivação do vazio das emoções, a filósofa, escritora e artista plástica Marcia Tiburi fez a palestra de abertura do XII Encontro Nacional do PROIFES-Federação nesta quinta-feira, 4 de agosto.

Não apenas delegados e observadores dos sindicatos federados, mas convidados do Brasil e do exterior, estudantes de comunicação, profissionais da mídia, políticos, lideranças dos movimentos sociais e sindicais e a sociedade civil lotaram o hall e o auditório do centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para discutir o diálogo como forma de resistência.

Com a abordagem do tema Democracia e Intolerância, a filósofa chamou à reflexão os presentes à cerimônia de abertura do Encontro, desvelando as contradições, preconceitos e práticas que caracterizam os movimentos autoritários no Brasil e avaliando o lugar elitizado em que está colocado o pensamento.

Como professora, Márcia chamou a atenção dos colegas docentes para a necessidade em produzir um movimento de tirar desse lugar de elitização o conhecimento. “Acho que a Universidade tem que produzir sempre, mas nesse momento obscuro, de grande mal-estar na política e na cultura que estamos vivendo hoje, nós, professores, precisamos nos tirar desse lugar que nós mesmos nos colocamos que é o da elitização do pensamento”.

Ao colocar a questão no nível da responsabilidade ética, como professores de Universidades e intelectuais, em uma sociedade em que a vigência do vazio do pensamento se tornou crucial e que se elabora na forma de outros vazios, Márcia afirmou que “Temer é também efeito da elitização do pensamento”, e alertou para a necessidade em aproximar a forma do conteúdo, recuperando a relação entre teoria e prática.

Ela vê a intolerância política crescente no país como \"uma estranha autorização das pessoas que não refletem, não raciocinam”. Para a filósofa, é como se as emoções tivessem sido compartimentadas separadas dos atos do conhecimento, o que reflete diretamente nas ações, e cita o consumismo como exemplo mais simples. “Esse vazio se transforma em uma despolitização radical da vida”.

Autora do livro Como conversar com um fascista, Marcia sugere a análise do cidadão comum nesse momento em que “o pensamento está em baixa, muitas pessoas se negam a refletir, questionar, perguntar o que está acontecendo”. Para ela, analisar a si mesmo levaria o cidadão a cair em um processo de profunda vergonha e mal-estar. Esse indivíduo acaba se lançando em um processo de julgar o outro, vide o caso da corrupção no Brasil. Aliás, essa história de golpe, esse senso do impeachment, se alicerça em uma propaganda contra a corrupção e é para convencer o cidadão mediano de que ele é melhor do que aquele que o governa.\"

Para Márcia, quem ensina as pessoas a odiar são as instituições, já que o fascismo não é natural das pessoas, mas resultado de uma produção e fomentado, principalmente pela tevê, num processo de vários anos. \"Para implantar o fascismo, a gente não pode criar um cenário simples e tranquilo, mas um cenário furioso com o discurso do ódio, incitando as pessoas a odiarem os diferentes. Hoje, o cidadão comum, quando encontra alguém que ele não gosta, nós devemos perguntar de onde vem esse ódio, porque não é algo das pessoas.\"

Mácia Tiburi

Marcia Tiburi é graduada em filosofia e artes e mestre e doutora em filosofia (UFRGS, 1999). Publicou diversos livros de filosofia, entre elas as antologias As Mulheres e a Filosofia (Editora Unisinos, 2002), O Corpo Torturado (Ed. Escritos, 2004), e Mulheres, Filosofia ou Coisas do Gênero (2008, Edunisc), Seis Leituras sobre a Dialética do Esclarecimento (2009, UNIJUí). 

Publicou também os ensaios: Crítica da Razão e Mímesis no pensamento de Theodor Adorno (EDIPUCRS, 1995), Uma outra história da razão (Ed. Unisinos, 2003),Diálogo sobre o Corpo (Escritos, 2004), Filosofia Cinza - a melancolia e o corpo nas dobras da escrita (Escritos, 2004) e Metamorfoses do Conceito (ed. UFRGS, 2005).  

Em 2008, publicou Filosofia em Comum - para ler junto(Record). Publicou em 2009 em parceria com Denise Mattar o livro Maria Tomaselli, sobre a artista homônima. Em 2010 publicou o infantil Filosofia Brincante (Record) eDiálogo/Desenho (ed. SENAC). Publicou em 2011 Olho de Vidro, a televisão e o estado de exceção da imagem(Record). 

Publicou os romances Magnólia em 2005 indicado em 2006 ao Jabuti de melhor romance e o segundo volume da série Trilogia Íntima chamado A Mulher de Costas em 2006 (ambos pela Ed. Bertrand Brasil). Em 2009 finalizou com o romance O Manto(pela Ed. Record), a série intitulada Trilogia Íntima. 

Em 2012 publica o romance Era Meu esse Rosto pela Editora Record. Ainda no prelo encontram-se os livrosDiálogo/Dança e Diálogo/Fotografia pela editora do SENAC-SP.

Como escritora, já participou de diversos eventos literários, entre eles a Jornada Literária de Passo Fundo, a Fliporto, o Festival da Mantiqueira, a Tarrafa Literária de Santos, as Bienais do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais, as feiras de Ribeirão Preto, de Porto Alegre, de Santa Maria, a Panamazônica de Belém, e diversas outras. 

Escreveu para várias revistas e jornais e desde 2008 é colunista da Revista Cult. Realiza palestras sobre filosofia, ética e educação e temas relacionados.

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