Senadoras e mulheres sindicalistas se uniram na resistência ao golpe contra a CLT

Publicado em 13 de julho de 2017 às 10h03min

Tag(s): Reforma Trabalhista



Na tarde desta quarta-feira (12), a oposição ao governo ilegítimo de Michel Temer tomou conhecimento de despacho do presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar contra as senadoras que resistiram ontem à votação da Reforma Trabalhista. A medida agora segue os trâmites da casa. Será indicado um relator e o assunto vai a debate, que pode resultar até em cassação dos mandatos.

O senador João Alberto Souza (PMDB-MA), -- o mesmo que arquivou o pedido de cassação do senador Aécio Neves com base nos áudios com o pedido de propina do mineiro ao proprietário da JBS --, aceitou a solicitação de abertura de procedimento para verificar práticas incompatíveis com a ética e o decoro parlamentar das senadoras Fátima Bezerra (PT-RN), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Regina Sousa (PT-PI), Lídice da Mata (PSB-BA)e Ângela Portela (PDT-RR).  

Como forma de protesto e resistência política contra o desmonte da CLT, mesmo antes de começar a sessão desta segunda (11), as senadoras citadas no documento ficaram quase 8 horas ocupando a mesa do plenário do Senado Federal para impedir, de maneira responsável, segundo Gleisi, a votação e a aprovação da Reforma Trabalhista por 50 votos a favor e 26 contrários.

Para a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Junéia Martins Batista, “falta de decoro tem esse senado formado por homens de pouco caráter, misóginos e de origem e postura escravagista. Isto sim merece comissão de ética e expulsão do parlamento, não aquelas e aqueles que cumprem seu papel na defesa dos menos favorecidos”, afirmou.

A ação, que pode cassar os mandatos, foi movida por 15 senadores da base aliada devido a resistência das parlamentares na defesa da classe trabalhadora.

A Reforma Trabalhista, que já está marcada para ser sancionada nesta quinta (13), permitirá que o patrão negocie diretamente com o trabalhador quanto tempo será a jornada, podendo chegar até 60 horas semanais. As férias poderão ser divididas em 3 partes, o horário de almoço pode ser alterado para 30 minutos e grávidas e lactantes poderão trabalhar em lugares insalubres. Os descansos semanais e o fundo de garantia poderão deixar de existir com o trabalho intermitente (clausula que permite o empregador contratar por hora e tempo que julgar necessário), entre outras maldades contra a classe trabalhadora.

Por volta das 18 horas, Eunício voltou ao plenário e, usando um microfone sem fio, reabriu a sessão. Sentado em uma ponta da mesa, o presidente do senado abriu e concluiu a votação.

“A maioria aqui é bem nascido e tem muito dinheiro. A maior parte de vocês são empresários e outros pertencem a aristocracia do serviço público e não tem nenhuma apatia com a classe trabalhadora. São os direitos do povo pobre brasileiro que ganham até 2 salários, do terceirizado e das mulheres que os senhores estão acabando”, destacou Gleisi em seu discurso emocionado direcionado ao Senado Federal logo após a aprovação da proposta.


Resistência e luta das mulheres

A luta e resistência das senadoras não foram suficientes para impedir a aprovação da Reforma Trabalhista, mas, segundo Junéia, as parlamentares deixaram registradas na história a luta de comprometimento com a classe trabalhadora.

“Não conseguimos enfrentar os representantes da elite brasileira, mas a resistência das senadoras guerreiras ficará registrada na história”, comentou Junéia.

da esquerda pra direita: Junéia, Maria Julia e Mara FeltesAs senadoras transmitiram em tempo real em suas páginas no facebook a resistência contra a Reforma Trabalhista. Com “lives”, como são chamados o “ao vivo” na rede social mais usada no país, as senadoras tiveram recordes de audiência, já que a TV Senado deixou de transmitir a sessão logo após o presidente da casa, Senador Eunício Lopes de Oliveira (PMDB-CE) mandou cortar os áudios e as luzes.

Durante todo o dia, Senadores, Deputadas e Deputados da oposição apoiaram e se solidarizaram com a luta das mulheres em defesa da classe trabalhadora. Foram 8 horas de enfrentamento com a base aliada. Elas chegaram a almoçar na mesa para não sair e correr o risco de começar a votação.  Na transmissão era possível ouvir pronunciamentos machistas e misóginos contra as mulheres, mas também, num certo momento, deu pra ouvir os gritos da Juneia vindo das galerias.

“Canalhas não mexam com os direitos dos trabalhadores”, gritava do andar de cima a secretária, que foi uma das únicas sindicalistas da CUT a entrar nas galerias do Senado.

“Nós assistimos a forma vergonhosa que o povo brasileiro é tratado no Senado. Ficamos muito tempo tentando entrar e permitiram só 3 sindicalistas entrarem devido a liminar que tínhamos do STF para acompanhar a votação. A classe trabalhadora não pôde acompanhar”, contou.

Centenas de dirigentes da CUT e de outras centrais estiveram em Brasília neste 11 de julho, mas foram impedidos de entrar no Senado. A secretária de Combate ao Racismo, Maria Júlia Reis, a diretora executiva, Mara Feltes foram outras dirigentes que acompanharam Juneia.

A dirigente CUTista afirmou que a aprovação da Reforma não será o fim da luta.

“Perdemos uma batalha, mas continuaremos resistindo e lutando. Como diria Hebe de Bonafini, a única luta que se perde é aquela que se abandona”, finalizou.

 

  • Procurada pelo portal da CUT, a assessoria da Gleisi não quis se manifestar sobre a representação porque a senadora não recebeu formalmente o documento.

Fonte: Frente Brasil Popular

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