Em Seminário, mesa traça panorama sobre financiamento e condições do trabalho científico e APUB lança GT de Ciência, Tecnologia e Inovação

Publicado em 26 de novembro de 2019 às 09h37min

Tag(s): Ciência e Tecnologia



A terceira mesa do Seminário “Desafios do financiamento da Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil e na Bahia”, que aconteceu na tarde desta sexta-feira (22) no auditório do PAF I (campus de Ondina da UFBA), pautou as dificuldades para a produção do conhecimento científico em um cenário de ataque às Universidades e à própria ciência. Sob a coordenação do professor Ricardo Carvalho (Politécnica/UFBA), a mesa reuniu os docentes Martín Labarca (Universidade de Buenos Aires), Dirceu Martins, diretor do Instituto de Química da UFBA, Thierry Petit Lobão, Coordenador de Pesquisa da Pró-reitoria de Pesquisa, Criação e Inovação e a Chefe de Gabinete da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia e professora do Instituto Federal da Bahia, Mara Souza. Em seguida, o professor Jailson Alves, diretor acadêmico da APUB, formalizou o lançamento do Grupo de Trabalho de Ciência, Tecnologia e Inovação do sindicato. O Seminário foi um evento organizado pela APUB Sindicato em parceria com o PROIFES-Federação.

Antes do início da mesa, a professora Celi Taffarel (Faced/UFBA) fez uma intervenção na qual saudou lançamento do GT e Ciência, Tecnologia e Inovação da APUB e solicitou que fossem referendados dois manifestos contra as novas diretrizes da formação de professores. Leia aqui e aqui.

O professor Martín Labarca fez um breve relato da experiencia na Argentina, que passou os últimos 4 anos sob as políticas neoliberais do governo Macri. Ele destacou o estrangulamento econômico realizado na área de ciência e tecnologia, no qual as primeiras áreas afetadas foram as ciências sociais e humanas. Apontou outras similaridades com o contexto brasileiro, como a deslegitimação de pesquisadores e pesquisadoras, inclusive com a utilização de ataques coordenados nas redes sociais e os cortes de subsídios de agências de fomento. “Vocês podem encontrar na Argentina exemplos de uma matriz comum do ataque ao conhecimento científico”, disse.

Em sua participação, a professora Mara Souza apontou algumas das ações que a Secretaria tem realizado para o desenvolvimento e consolidação da ciência, tecnologia e inovação no Estado; entre elas, a elaboração da Política de Ciência, Tecnologia e Inovação, de um Observatório, Banda Larga voltada para o segmento e um Marco Legal, que será discutido numa Conferência Estadual a ser realizada nos dias 05 e 06 de dezembro. Apresentou os múltiplos atores desse campo – governo, empresas, Universidade e sociedade – destacando que “o financiamento vai para além do governo, que também tem outros papeis, como a criação de políticas, apoio institucional e ser a voz de todas essas demandas”.

“A ciência como um todo está sob ataque, na verdade, eu diria que o conhecimento e a civilização estão sob ataque nesse governo”, declarou Thierry Petit em sua intervenção. Apontou que não apenas o financiamento, mas a própria existências das agências de fomento está risco, com a possibilidade de fusão da Capes e CNPq Ele também chamou atenção para o desastre ambiental causado pelo derramamento de óleo na costa do Nordeste afirmando que falta apoio para pesquisadores/as que poderiam trabalhar na contenção dos problemas. Alertou para o uso acrítico da “inovação” como busca central das pesquisas: “utilizar o mantra da inovação para dizer que a Universidade brasileira não está plenamente desenvolvida é uma falácia”. Por fim, disse que a Universidade precisa descobrir como se comportar no atual cenário, buscando caminhos comuns e estando mais próxima à sociedade.

A interlocução com a sociedade também esteve presente na fala do professor Dirceu, que defendeu pesquisas mais alinhadas com a população. Ele fez um breve resgate histórico do financiamento da ciência e tecnologia antes e depois do golpe de 2016 e afirmou que, este governo “em 11 meses já destruiu muito do que foi feito antes, inclusive tem feito uma política de destruir a memória”. Criticou ainda o Ministro da Educação, que “não tem se mostrado à altura do cargo” e cobrou ações também do governo do Estado. Ele fez sugestões para a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, como financiamento especial para novos professores, maior fluidez na comunicação e retomada de balcões.

Após o debate com os/as presentes, o professor Jailson Alves tomou a palavra para marcar o lançamento do GT de Ciência, Tecnologia e Inovação da APUB, que seguirá sob sua coordenação. Ele reafirmou a importância do debate em torno do tema, que está alinhado às condições do trabalho docente e à luta do sindicato e apresentou os eixos centrais das discussões que serão feitas dentro do GT: Financiamento da ciência e tecnologia e inovação; marco regulatório legal; marco institucional; articulação das relações sindicais.

 

Leu ainda uma moção de repúdio às declarações recentes do Ministro da Educação. A nota foi aprovada pelo plenário (veja aqui). A professora Raquel Nery, presidenta da APUB, encerrou o Seminário defendendo a produção da ciência com liberdade e voltada para o bem comum.

Fonte: Ascom APUB-Sindicato

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