O legado do mestre

Publicado em 26 de março de 2021 às 12h26min

Tag(s): Educação Paulo Freire



A nova edição especial do Jornal da Ciência celebra o centenário de nascimento do educador Paulo Freire e traz a Educação como tema principal, com diversas abordagens. A versão em PDF está no ar e pode ser baixada gratuitamente

Paulo Freire, cujo centenário de nascimento será celebrado em setembro, é um dos nomes que melhor representam o Brasil. Nascido no Recife (PE), em 19 de setembro de 1921 e falecido em São Paulo, em 2 de maio de 1997, ele deixou um legado humanista e filosófico que transcendeu a educação, área para a qual ele dedicou sua vida.

Seus livros foram traduzidos em vários idiomas e ”Pedagogia do Oprimido”, sua obra clássica, entrou para a história como um dos livros mais lidos, um dos mais citados e que inspirou professores, profissionais e artistas de todas as áreas, em todo mundo.

A nova edição do Jornal da Ciência é uma homenagem a Freire. Ouvimos depoimentos de educadores, familiares e amigos para traçar um perfil. Buscamos dar um toque especial, trazendo o trabalho do cientista da computação capixaba David Nemer e da artista plástica e pesquisadora Naomi Rincón Gallardo, dois jovens que eram crianças quando Freire faleceu, mas que foram inspirados por seu trabalho.

A SBPC teve a oportunidade de homenagear Freire em duas ocasiões, uma ainda em vida. Em 1993, a entidade se juntou a um grupo de educadores, sindicalistas, dirigentes de associações e organizações de diversas áreas que apresentaram oficialmente o nome dele ao Comitê que outorga o Prêmio Nobel da Paz, na Noruega. Em julho daquele ano, a direção aprovou uma moção, durante a sua 45ª Reunião Anual, realizada no Recife, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), apoiando a indicação.

A moção afirmava que a iniciativa de premiação ao educador seria o reconhecimento oficial ao seu projeto pedagógico que ganhou o mundo. A segunda vez foi uma homenagem póstuma, durante a 55ª Reunião Anual realizada também na UFPE, em 2003.

Sobre a Educação, atualmente vivemos algumas inquietações.

Uma notícia alvissareira é que a Lei de Cotas (Lei 12.711/2012) foi debatida nas instituições de ensino federal junto a especialistas, professores e pesquisadores que confirmaram os bons resultados em termos de inclusão de ingressantes provenientes da rede pública e os autodeclarados pretos, pardos e indígenas. A constatação é embasada por um estudo apontando que iniciativas adotadas por decisão dos programas de Pós-Graduação das universidades federais aumentaram de 45, em 2017, para 134, em janeiro de 2018. Esses dados são importantes para subsidiar um debate fundamental sobre a Lei de Cotas que perderá a validade em 2022 caso não seja renovada pelo Congresso, conforme prevê o artigo 7º do próprio texto.

Por outro lado, a pandemia do coronavírus deixou, até agora, um saldo negativo para professores, alunos e suas famílias após quase um ano sem aulas presenciais. Mesmo sem a vacina contra a covid-19, os governantes autorizaram a volta às aulas presenciais de forma precária. Diante do fato de que essa não é a primeira pandemia, não será a última e as próximas acontecerão com cada vez mais frequência – segundo estudos científicos sobre mudanças climáticas e degradação ambiental – arquitetos e professores afirmam que o espaço escolar tem que ser reestruturado para estes novos tempos.

Além disso, cortes orçamentários sucessivos, ano a ano, se somam a ataques de cunho ideológico. Em janeiro, foi publicado um edital destinando parte dos magros recursos da Capes para pesquisas direcionadas a uma visão conservadora da família. Pouco depois, o governo tentou extinguir a exigência de gastos obrigatórios com saúde e educação via Proposta de Emenda Constitucional 186/2020, batizada de PEC Emergencial.

Além do desfinanciamento, especialistas afirmam que as instituições científicas e acadêmicas poderão sofrer novos ataques impostos por políticas conservadoras e excludentes.

Sintomaticamente, são os mesmos conservadores que atacam Paulo Freire. O governo federal no poder desde 2018 prometeu banir Freire da educação brasileira e, além de não o reconhecer como Patrono – título conferido a ele por decisão do legislativo em 2012 – o trata com desapreço nas redes sociais.

Ildeu de Castro Moreira | Presidente da SBPC

Fernanda da Fonseca Sobral | Vice-presidente da SBPC

Baixe a nova edição do JC e boa Leitura!

Jornal da Ciência

Fonte: SBPC

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