Descaso e inépcia do governo em relação à pandemia aprofundam caos sanitário e econômico no Brasil

Publicado em 28 de maio de 2021 às 10h11min

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A pandemia de covid-19 trouxe vários desafios. Nos países que agiram a partir de preceitos científicos e com planejamento público e adotaram procedimentos como testagem e vacinação em massa, lockdowns seletivos aliados a estímulos fiscais consistentes e efetivos, a economia caminha para a recuperação em 2021, ao mesmo tempo em que caem as taxas de mortalidade. 

Infelizmente, no Brasil, as medidas indicadas pelas autoridades sanitárias e organizações nacionais e internacionais foram negligenciadas sistematicamente. O governo federal nada fez para prevenir o contágio e a propagação do vírus: não realizou a testagem em massa, não restringiu atividades e nem mesmo comprou vacinas. Em relação à imunização, o país chegou a rejeitar a compra de um lote de 100 milhões de doses de vacinas em 2020. Recentemente, numa reunião da Organização Mundial de Saúde (OMS), o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, apelou para que os países que possuem doses excedentes de vacinas façam doações ao Brasil. Agora, o governo também corre atrás para comprar as 100 milhões de vacinas, só que ao preço majorado em R$ 1 bilhão. 

O Brasil, que representa cerca de 3% da população mundial, virou, juntamente com a Índia, o epicentro da pandemia. Segundo estimativas do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME, na sigla em inglês)2 , da Universidade de Washington, “os números reais, somadas as subnotificações, são significativamente piores”, o que significa que o país pode alcançar meio milhão de mortos por covid19 ainda no primeiro semestre de 2021. As medidas sanitárias e emergenciais para mitigar o impacto da pandemia são lentas, tardias e, atualmente, menos efetivas do que as tomadas no ano passado. Segundo estimativa do Made (Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades), da Universidade de São Paulo (USP)3 , a redução do auxílio emergencial elevará a quantidade de pessoas pobres e extremamente pobres no Brasil. Os pobres, estimados em 61,1 milhões de pessoas, terão que sobreviver com R$ 15,63, e os extremamente pobres, 19,3 milhões de pessoas, com R$ 5,40. Essa população supera o número de ocupados no Brasil. 

O gasto médio diário do Executivo Federal no combate à pandemia de covid, nos primeiros 100 dias de 2021, equivale a modestos 8,3% do gasto médio diário do ano passado. Dito de outra forma, o desembolso médio diário do governo entre 13 de março e 31 dezembro de 2020 foi 12 vezes maior do que em 2021, até 10 de maio. O governo também vetou R$ 200 milhões que seriam investidos em pesquisa de vacina nacional contra a covid-19, desenvolvida por cientistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP)6 , e atrasou a entrada em vigor de um reduzido auxílio emergencial e do Programa de Manutenção do Emprego e da Renda, renovado com valores irrisórios que vão de R$ 150,00 a R$ 350,00. Este último valor, destinado a famílias chefiadas por mães, equivale a pouco mais de 55% do valor de uma cesta básica suficiente para alimentar uma pessoa adulta por um mês em São Paulo. Coibiu também a verba destinada à continuidade das obras da Faixa 1 do programa “Casa Verde e Amarela” (originalmente “Minha Casa, Minha Vida”), cujo orçamento, inicialmente previsto pelo Congresso Nacional em R$ 1,540 bilhão, foi praticamente zerado, para R$ 27 milhões - redução de R$ 1,513 bilhão, ou 98,2%. 

A pandemia ainda ter deve muitos desdobramentos na saúde e também nas áreas social e econômica. Nesse sentido, os indicadores de velocidade e a abrangência do contágio do vírus, bem como da vacinação, são variáveis importantes para os cenários de curto e médio prazo de crescimento econômico. Somam-se a essas incertezas a instabilidade e as tensões políticas promovidas diariamente pelo governo federal contra o Congresso Nacional, o Judiciário e as instituições, de modo geral. 

Nesse momento, uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado apura irregualidades e má condução de ações para conter a pandemia no país. Se agentes públicos serão responsabilizados, ainda é difícil saber. 

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Fonte: DIEESE

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