Negacionismo é elemento fundamental no projeto de Bolsonaro, mas vem custando vidas

Publicado em 29 de julho de 2021 às 09h25min

Tag(s): Governo Pandemia de coronavírus



Negacionismo é elemento fundamental no projeto de Bolsonaro

Há um projeto capitaneado pelo presidente Jair Bolsonaro e “sua turma” para desconstruir toda a rede de proteção social, tirar direitos da sociedade e prejudicar as camadas mais desassistidas.

Para isso, ele lança mão de toda sorte: usa a religião e a fé das pessoas, ameaça e assedia o funcionalismo público, descredibiliza a imprensa, tenta fragilizar as instituições, confronta os Poderes da República, usa e abusa das chamadas fake news e, por óbvio, nega a ciência.

O negacionismo é peça fundamental nesse projeto de desconstrução das bases sociais traçado por Bolsonaro e por aqueles que o ajudaram a chegar ao poder (para assombro de todo o mundo civilizado).

Isolamento e blindagem cognitiva

Não por acaso, aqueles que o segue são envoltos em uma espessa nuvem de isolamento (ou bolhas sociais, especialmente na internet). São convencidos a não assistir telejornais ou ler matérias em veículos de mídias tradicionais.

Para que seus admiradores não tomem conhecimento de seus crimes e daqueles praticados por familiares, membros de seu governo e apoiadores, Bolsonaro cria um clima permanente de histeria para transformar a mídia (cuja maior parte sempre foi conservadora e muitos de seus donos ou fundadores apoiaram a ditadura) em inimiga.
É uma blindagem cognitiva para que as pessoas nunca acreditem em algo considerado prejudicial à imagem do presidente e daqueles que o cercam.

Além disso, o negacionismo tem outro aspecto fundamental para eles: como Bolsonaro e sua trupe não têm um projeto efetivo para melhorar o Brasil, fazem um governo do tipo “praga de gafanhoto”. Devoram tudo o que podem no menor tempo possível (no caso, enquanto durar o mandato) para beneficiar apenas os grupos econômicos que o sustentam.

Esse projeto depende da retirada de direitos (civis e trabalhistas), alterações da Constituição e das leis (sempre prejudicando o conjunto da sociedade), privatizações a esmo e liquidação do patrimônio público a preço de banana. Por isso, não podem mostrar para a população o que está por trás de suas motivações.

Precisam escamotear (ou esconder) suas reais intenções. Afinal, como apoiar que o sistema financeiro (de onde veio o ministro da Economia, Paulo Guedes) abocanhe metade do orçamento federal enquanto milhões de brasileiros retornam para a pobreza e para a fome?

A ciência, com frequência, derruba as teses e os discursos do presidente e daqueles que o seguem. É por isso que eles precisam sempre apelar para as fake news, para as retóricas de ódio, para as polêmicas que desviam a atenção das pessoas e para as bravatas contra quem denuncia o governo.

O projeto deles só funciona se as pessoas enxergarem uma realidade distorcida (nem que isso signifique negar que a Terra é redonda, por exemplo), acreditarem em paranoias coletivas (como ameaças invisíveis). Por isso, atacam frequentemente professores universitários, pesquisadores e cientistas.

O negacionismo na pandemia custou caro

Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) e todas as entidades científicas renomadas pregam o uso de máscaras de proteção e o distanciamento social, o presidente continua na contramão. Critica quem prioriza a vida, minimiza a pandemia (que, nas palavras dele era só uma “gripezinha” e um “resfriadinho”), promove aglomerações e vem travando uma batalha contra os governadores e prefeitos que tomam decisões para impedir o avanço da doença.

Bolsonaro tentou, desde o começo enganar a população e utilizou como “justificativa” uma suposta manutenção da economia. Para isso, criou um discurso que coloca as coisas em lados opostos, contrariando até orientações de economistas liberais conceituados, que afirmam que sem vida, não há economia.

Apostou a vida dos brasileiros nessa jogada política. Mas aí veio o resultado (que era óbvio): centenas de milhares de mortos.

E para desviar-se de suas responsabilidades, começou uma estratégia de ataque àqueles que tomaram medidas mais severas para proteger a população. Tentou transferir toda a culpa do problema econômico aos governadores, achando que a maioria das pessoas consideraria isso mais relevante do que a quantidade de mortes.

Por meio de discursos distorcidos e disseminação massiva de fake news, Bolsonaro veio jogando para sua plateia já pensando nas eleições de 2022.

Por que a ciência nunca foi prioridade?

Diferentemente de outros governantes mundo afora, Bolsonaro não valorizou a ciência em nenhum momento da pandemia.

Logo que as primeiras vacinas começaram a ser anunciadas, desdenhou e ainda adotou um discurso para amedrontar seus seguidores, fazendo-os acreditar que eram ineficazes ou perigosas (sim, muitos realmente acreditaram que poderiam virar jacaré e não foram se vacinar mesmo quando podiam).

E negou-se a comprar, por dezenas de vezes, as vacinas de laboratórios mundialmente reconhecidos, atrasando a imunização dos brasileiros (agora, sabe-se que um dos motivos foi preferência pela compra de vacinas superfaturadas de um laboratório indiano).

Investiu no discurso de promoção de um falso “kit covid”, que fez com que muitas pessoas morressem depois de adoecerem por adotar comportamento negligente na pandemia, acreditando que os medicamentos (cuja eficácias não foram comprovadas pela ciência) seriam preventivos ou que seriam uma cura eficaz em caso de infecção pelo novo Coronavírus.

Como resultado, estudos com bases científicas comprovaram que cidades onde Bolsonaro teve mais votos na disputa para a Presidência em 2018, apresentam riscos até 500% maiores de contaminação e morte de sua própria população, justamente por terem mais pessoas que ainda acreditavam no presidente.

A Reforma Administrativa reforça o negacionismo

A chamada Reforma Administrativa (PEC 32/2020) quer acabar com o serviço público e um dos setores mais afetado serão as universidades públicas, que já vêm sofrendo com a política de desvalorização da educação e da ciência.

Em meio à pandemia, o governo cortou o orçamento das universidades federais, reduzindo-os ao patamar de uma década atrás (quando o universo acadêmico era muito menor), interferiu nas agências de fomento, cortou bolsas de pesquisa e recursos valiosos de projetos, muitos dos quais estudavam os impactos da Covid-19 ou buscavam o desenvolvimento de novas vacinas nacionais contra a doença.

Além de destruir o tecido social e desestabilizar as instituições, o negacionismo tem sua face mais perversa. Sem a adoção das medidas de proteção, aliada à lentidão das vacinas, o número de mortos passou de 500 mil pessoas no Brasil.

Um estudo feito pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) revelou que se o país tivesse adotado as medidas corretas, teria evitado até 75% das mortes já ocorridas. 400 mil vidas poderiam ter sido poupadas. O número é avassalador, mas explica por que Bolsonaro quer acabar com a ciência, para que dados como esses não sejam mais revelados.

Além de contribuir para a morte das pessoas e fragilizar a economia, o negacionismo destrói toda a rede de proteção social do Brasil.

Fonte: APUB

ADURN Sindicato
84 3211 9236 [email protected]