Educação como Prática da Liberdade: em conferência, professora Maria Caputo relata experiências

Publicado em 20 de setembro de 2021 às 10h57min

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“Ninguém começa a ler a palavra, porque antes o que a gente tem para ler à disposição da gente é o mundo”. Foi parafraseando Paulo Freire que a professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Maria Caputo, iniciou sua exposição na conferência, Educação como Prática da Liberdade: universalizando a saúde e a educação. A atividade aconteceu na tarde da última quinta-feira, 16, e integra a programação do evento em celebração ao Centenário de Paulo Freire, promovido pelo Departamento de Odontologia do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

A docente revelou que descobriu as ideias freirianas por casualidade quando foi presenteada com um livro do educador.  À época, Caputo exercia a medicina, “Na prática pediátrica as ideias de Freire começaram a fazer sentido”, disse. “Eu não lia o mundo, e especialmente o mundo das pessoas que eu tinha que cuidar, não somente tratar”. Conhecer as obras de Paulo Freire influenciou todas as experiências seguintes de Maria Caputo com a saúde. “Só fazia sentido o que eu fazia se eu trabalhava junto com a gente, não me podia conformar em ficar só no hospital, só na atenção, porque se não ia ter que me acostumar a medicalizar os problemas sociais”, afirmou.

Durante sua apresentação, a conferencista expôs conceitos de Freire e explicou como aplicou tais conceitos às suas experiências, tanto como médica, quanto como professora. “Em uma comunidade em Nicarágua eu perguntei o que é saúde e naquela época, nos anos oitenta e pouco, embaixo do braço eu tinha  a definição da ONU [Organização das Nações Unidas] de 1948 e ainda não tinha descoberto que essa definição era um fiasco”, contou. 

 

Uma das respostas chamou a atenção da professora: “senhora, saúde é capacidade de luta”, disse um dos alunos. Indagado sobre o que quis dizer com essa afirmação, o aluno então respondeu: “se você de manhã não luta contra o sono para ir trabalhar, então você não está bem. Se vem um bicho e você não luta contra ele, você adoece”. Maria Caputo narrou que o discente não parou por aí, “ele fez uma lista enorme de coisas com as quais nós temos que lutar para nos sentir saudáveis”. A partir desse dia a docente abandonou a definição da ONU que seguia até então. “Saúde é a capacidade de lutar”, reafirmou Caputo.

A experiência citada, ilustra a afirmação de Freire de que “quem ensina aprende a ensinar, e quem aprende ensina ao aprender”. Assim, Caputo também trouxe depoimentos de alunos com os quais trabalhou. Em uma das declarações o discente de um determinado assentamento afirmou: “Eu comecei a pensar, se esse povo todo acredita na gente, porque eu mesmo não acredito em mim?”, lembrou a professora.  

Maria Caputo encerrou sua exposição exibindo um vídeo da canção “Honrar la vida”, interpretada pela cantora argentina Mercedes Sosa. “Mercedes e Paulo Freire nos convidam a honrar a vida e eu gostaria que possamos honrar a vida não permitindo que destruam nosso país”, concluiu a docente.

A conferência da professora Maria Caputo contou com a mediação de Maurício Telles e Bárbara Letícia. As conferências do “Centenário Paulo Freire: contribuições para a formação nos cursos da área da Saúde'' podem ser assistidas no canal do YouTube do ADURN-Sindicato

A transmissão completa da conferência Educação como Prática da Liberdade: universalizando a saúde e a educação pode ser vista no vídeo abaixo:

ADURN Sindicato
84 3211 9236 [email protected]