Aprovados no Enem, estudantes de escolas públicas resistem à destruição da educação no Brasil

Publicado em 25 de fevereiro de 2022 às 15h00min

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Ageu Salgado dos Santos.  Foto: arquivo pessoal

 

Que as redes são extremamente espetaculares, todo mundo já sabe. Pesquisas e conta de que sites como Facebook, Twitter e Instagram são polos disseminadores de fake news e discursos de ódio – um “veneno” para a saúde mental. Mas não é sobre isso que quero falar agora. Vou me ao lado bom desses veículos sociais, que movimentam bilhões de dólares com nossos likes . Nas postagens, nesta época do ano, emergem relatos de estudantes ou estudantes das classes pobres e médios, com nota escolar no Exame Nacional (Enem), uma vaga em escolas também particulares. Um verdadeiro refrigério para a alma.

Desde oa alegria da semana, acompanhei os colegas de seus alunos e os ex-alunos que superaram inúmeras barreiras ao início e agora são calouros de defensores e agora são calouros de defensores ao início. Professora da Rede Estadual de Educação de Minas Gerais postou uma foto em que aparece ao lado de Letícia Poli, aprovada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Flor Pinto, educadora do interior, vídeo viralizou por ela o vestibular para a emoção que está diante da faculdade em que trabalha, sintetizou significa: “Esc pública! Só a gente sabe!”.

No Facebook, acompanhei o orgulho, felicidade de Cida Araújo, que em uma postagem contorno que sua neta, 18 anos, também se tornou aluna da MG. Nas palavras de Cida, “em plena pandemia, só ela e o computador com muita dedicação, Lívia atingiu 940 pontos na redação do Enem. Lívia também é filha da escola pública e moradora de Vespasiano, município que integra a lista dos mais pobres do País.

Por meio do Instagram, conheci a história de Ageu Salgado dos Santos, aprovado em medicina na UFPA. O jovem de Tomé-Açu é filho de um gari e de uma diarista. Segundo matéria publicada no UOL , aos 21 anos, Ageu é o “primeiro proprietário dos dois lados da família a entrar na universidade”. O futuro médico contorno que, por não ter computador em casa, recorre a um celular e um tablet para acompanhar os conteúdos disponíveis na internet e se preparar para o Enem. Orgulhoso, Messias dos Santos, pai de Ageu Messias, celebrou: “Valeu muito a pena todo o esforço dele em não desistir daquilo que ele queria de verdade. A gente espera que isso incentive os irmãos a seguirem os passos dele”.

Essas histórias que circulam nas redes sociais vêm à tona no momento em que a destruição e a negação de direitos são como únicas políticas de educação do País. Os dados divulgados em relação às ações do Ministério da Educação (MEC) são devastadores. Em 2020, primeiro ano da pandemia, foi registrado o menor gasto do MEC com a educação básica . Esse gesto de desprezo pelo ensino público se deu no período em que milhões de alunos foram obrigados a se afastar das aulas presenciais. Muitos não tiveram condições de acompanhar o ensino remoto em razão da falta de internet, do luto, do desemprego e da fome enfrentada pelas famílias.

O episódio mais recente da cruzada contra a educação foi a exclusão de microdados do Censo Escolar e do Enem do site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) . As informações anteriores a 2020 também não podem ser mais acessadas. Os dados omitidos pelo governo federal, que dentre outras coisas registram números referentes à evasão escolar, são fundamentais para a elaboração de políticas públicas que visam à melhoria da qualidade do ensino e ao combate das desigualdades educacionais.

As histórias exitosas que registraram aqui saltam aos nossos olhos em um contexto de desqualificação e dificuldade de professores, que sem sombra de dúvidas, tiveram participação fundamental para que esses jovens conseguiram chegar à universidade. A detração do fazer docente tem sido uma constante. Exemplo disso foram as palavras do deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), que em entrevista à CNNBrasil , de maneira leviana, disse: “O professor não quer se atualizar, não quer se modernizar, essa é a verdade. Já passou em um concurso, está esperando se aposentar, não quer aprender mais nada”.

Declarações abjetas como essa se juntam tentaram incessantes de assassinar o legado e a memória de Freire, como também aos ataques de Paulo quase que diários à ciência. Os jovens retratados neste texto, assim como muitas outras trajetórias de vida semelhantes, chegam ao corte da universidade meses de um estudo de 600 milhões de reais que poderiam ser modificados à.

Além de jovens universitários, Letícia, Lívia e Ageu representam a resistência à destruição do ensino público e do direito à educação. Eles resistem aos que bradam contra a presença de negros, indígenas, filhos de garis, de diaristas, de trabalhadores domésticos e de porteiros na universidade. Resistem também aos que de maneira tacanha e vergonhosa defendem que o ensino superior deve ser destinado apenas a uma “elite intelectual”.

Letícia, Lívia e Ageu são a prova de que apesar dessa política de genocídio do futuro, “amanhã há de ser outro dia”, como bem cantou Chico Buarque de Hollanda.

Fonte: Carta Capital

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