Saúde, ciência e inovação devem estar no centro de uma nova estratégia nacional de desenvolvimento, afirmam especialistas

Publicado em 18 de abril de 2022 às 08h40min

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No quinto seminário da série promovida pela SBPC, cientistas apontam que desigualdade é um dos maiores problemas enfrentados pela saúde no Brasil hoje

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Saúde, ciência e inovação devem estar no centro de uma nova estratégia nacional de desenvolvimento. Essa foi a conclusão dos participantes do quinto seminário da série “Projeto para um Brasil Novo”, realizado nesta quarta-feira (13). O evento foi transmitido pelo canal da SBPC no YouTube.

Coordenado por Ligia Bahia, professora Associada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e secretária regional da SBPC no Rio de Janeiro, o evento contou com a participação de Carlos Gadelha, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz Carlos (Fiocruz); Gonzalo Vecina Neto, professor Assistente da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP); Romulo Paes, epidemiologista e pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Minas); e Rosana Teresa Onocko Campos, presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), além de abertura de Renato Janine Ribeiro e Fernanda Sobral, respectivamente presidente e vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

“A SBPC lida com um círculo virtuoso. Este círculo virtuoso inclui, claro, a ciência, que está no nome da nossa sociedade, a cultura, que está no nome da nossa revista Ciência & Cultura, recentemente relançada em formato digital, e está também na saúde, no meio ambiente, na inclusão social e na educação”, apontou Janine Ribeiro durante a abertura do evento. “Nosso objetivo é fazer com que todos esses pontos se conjuguem para que o Brasil se desenvolva e se torne o país que pode ser”, afirmou.

Desigualdade

Contrapondo-se a esse círculo virtuoso, os participantes identificaram um círculo vicioso que prejudica a saúde da população brasileira: a desigualdade social, agravada com a pandemia de covid-19. “Existe um círculo vicioso que alimenta o circuito pobreza, problemas de saúde, rotas de exclusão social. Essa situação é prejudicial, precisa e pode ser interrompida”, alertou a presidente da Abrasco. “Uma questão da saúde coletiva é pensar como a sociedade brasileira vai poder caminhar para um caminho com menor desigualdade”.

Segundo os especialistas, a desigualdade social “faz mal à saúde”. Um de seus reflexos é o aumento da incidência das doenças negligenciadas, como a dengue e a doença de Chagas, e também a disparidade no acesso à saúde. O Boletim Observatório Covid-19 da Fiocruz, divulgado em fevereiro deste ano, destacou os impactos desiguais no Brasil no acesso à saúde durante a pandemia. O estudo apontou que os indicadores de casos, internações e mortes registrados mostraram que nem todos os espaços geográficos e populações vivenciaram a pandemia com a mesma intensidade, principalmente nos municípios mais distantes das capitais e mais pobres. A desigualdade se repetiu na disponibilidade e no acesso aos leitos de UTI.

“As duas principais contribuições que esta crise trouxe para a nossa realidade foi mostrar que o que mais mata os brasileiros é a desigualdade e que a coisa mais importante para combater essa crise sanitária foi o SUS”, enfatizou Vecina Neto.

Reconstrução

Se por um lado a pandemia aprofundou as desigualdades e acendeu um sinal de alerta sobre sua gravidade e consequências, por outro ela também mostrou a necessidade de buscar soluções coletivas e a importância da ciência e da tecnologia para isso.

“Nós temos que pensar de modo integrado: a dimensão econômica, a dimensão social, ambiental, da tecnologia e da inovação. Não há projeto de desenvolvimento digno deste nome que não passe por essas dimensões”, pontuou Gadelha. “E temos que nos conscientizar que saúde, o bem-estar, a ciência, a tecnologia e a inovação são os motores para a retomada do desenvolvimento. A pandemia mostra de modo muito importante: quanto mais capacidade nacional, capacidade local, mais podemos cooperar globalmente. Quem não tem conhecimento de ciência, tecnologia, inovação e saúde não pode nem cooperar”.

Para Bahia, coordenadora do evento, essas discussões são fundamentais: para apontar caminhos e reunir ideias. “Nós não estamos resignados, não estamos achando que não tem jeito: nós estamos acreditando que somos capazes de produzir conhecimentos férteis. Esse é o nosso papel, nós que somos pesquisadores, nós temos que produzir esses conhecimentos, essas informações, para alcançar essas mudanças”, afirmou.

Projeto para um Brasil Novo

O objetivo da série de seminários é discutir temas relevantes que contribuam para o desenvolvimento do País. Ao final, eles serão objetos de uma publicação, que abrangerá todas as propostas surgidas a cada semana durante os seminários. O documento será entregue para apreciação e comprometimento dos candidatos, tanto no Legislativo quanto no Executivo.

Para Paes, a elaboração desse documento é extremamente relevante, além de ser uma grande responsabilidade. “Uma alteração de curso na situação política do Brasil vai implicar em uma recuperação da credibilidade do governo, das instituições públicas e do setor público”, apontou.

A série “Projeto para um Brasil Novo” compõe 12 seminários temáticos. Entre os assuntos abordados estarão “Direitos humanos”, “Segurança pública”, “Mudanças climáticas”, “Meio ambiente”, “Questão indígena”, “Diversidade de gênero e raça” e “Cultura”. O primeiro seminário debateu “Ciência, Tecnologia e Inovação”, o segundo “Educação básica”, o terceiro “Educação superior” e o quarto “Pós-graduação”. Os eventos online têm transmissão pelo canal da SBPC no YouTube.

“Se a questão da saúde não está sendo colocada como prioridade nas campanhas políticas, a SBPC vai tentar justamente colocar essa questão como prioridade”, enfatizou Sobral, lembrando que os candidatos assinam o documento resultante dos debates realizados, possibilitando assim uma cobrança posterior desse compromisso. “Eu acredito que podemos reconstruir diferente”, finalizou.

Assista aqui ao seminário na íntegra. 

Fonte: Jornal da Ciência

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