Representatividade negra é essencial nas universidades brasileiras

Publicado em 25 de abril de 2022 às 08h46min

Tag(s): Universidades Públicas



Se homens negros e mulheres negras representam 56,2% da população brasileira, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2018, como explicar a baixa representatividade na vida acadêmica? Apesar de alguns avanços verificados nas últimas décadas, especialmente por causa da Lei de Cotas, ainda há muito caminho a ser percorrido para mudarmos essa inaceitável realidade.

Um ponto de partida para compreender o problema vem da pesquisa “Raça, gênero e saúde mental nas universidades federais”, promovida pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa (Gemma) e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). De acordo com o levantamento divulgado em 2020, que consultou 424 mil estudantes de instituições de ensino superior federais de todo o país, 26% dos alunos negros afirmaram que problemas financeiros são os que mais dificultam a continuidade da jornada acadêmica. Para os brancos, o maior obstáculo é a “falta de disciplina para estudar”.

Para fazer eco com esse estudo, uma outra pesquisa, da Liga de Ciência Preta Brasileira, revela que entre os alunos de pós-graduação do país, apenas 2,7% são pretos. O percentual de brancos chega a 82,7%.

Na Bahia, um alento vem da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). A instituição, que caminha para duas décadas de atividades, tinha, em 2017, 83,4% de estudantes autodeclarados negros, e 82% deles eram de famílias com renda total de até um salário-mínimo e meio.

Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), dados da V Pesquisa Nacional de Perfil dos Graduandos das IFES 2018, promovido pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), apontam que o perfil de graduandos da instituição é, majoritariamente, negro, jovem e do sexo feminino.

Pelo estudo, 75,6% dos estudantes da UFBA são negros. O percentual de acadêmicos que utilizaram o sistema de cotas também é superior à média nacional – 45,1%, enquanto no Brasil é de 41,9%.

Para garantir cenários como o da UFRB e da UFBA sejam ampliados, é fundamental que o Governo Federal estabeleça políticas públicas com foco na permanência dos estudantes negros nas universidades. O desnível social verificado no país acaba afastando esses alunos da sala de aula.

Só que o governo de Jair Bolsonaro vai na contramão e corta recursos essenciais destinados a programas de assistência estudantil.

Entre 2020 e 2021, o Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) sofreu redução de 18,3%. Com isso, programas de permanência para estudantes de baixa renda sofreram redução ou até cancelamento de bolsas.

Racismo estrutural persiste

Se não bastassem as desigualdades, ainda há o racismo estrutural enraizado em nossa sociedade. Diante dessa questão, torna-se necessário o fortalecimento efetivo da educação antirracista. Na prática, é preciso rever modelos e superar a falsa ideia de superioridade branca, que alguns setores insistem em sustentar (com o apoio de membros do governo brasileiro).

Como fazem parte, majoritariamente, da população mais pobre do Brasil, os negros encontram realmente mais dificuldades para permanecer na universidade. As grades horárias, por exemplo, muitas vezes desfavorecem essa integração, assim como a impossibilidade de frequentar as atividades de extensão e o inadequado horário de funcionamento da biblioteca.

Vários desses estudantes negros precisam trabalhar para complementar a renda familiar e esse acaba sendo um grande empecilho na vida acadêmica.

Fim das cotas e neonazismo?

Além de enfrentar o racismo estrutural, a população negra ainda precisa formar resistência contra iniciativas como a do deputado federal Kim Kataguiri (Podemos-SP), que apresentou um projeto para acabar com a Lei das Cotas. Ele é o mesmo deputado que, durante um polêmico podcast, defendeu a descriminalização do Partido Nazista alemão. Quanta coincidência.

Kataguiri é também o maior parceiro do deputado estadual “Mamãe falei” (Podemos-SP), que sofre dezenas de pedidos de cassação por declarações do tipo “as mulheres ucranianas são fáceis porque são pobres, em áudio durante viagem ao país em guerra (peripécia que também está sob investigação por suspeitas de evasão de divisas).

Desigualdade em outras etapas

O caos da desigualdade se perpetua em todas as etapas do ensino superior. No Brasil, de acordo com dados divulgados pela revista Pesquisa, da FAPESP, dos 80.115 doutores e mestres formados em 2020, apenas 2.746 são pretos.

O Censo da Educação Superior de 2018, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC), revela que a instituição de ensino superior com a maior quantidade de negros na docência no país é a Universidade do Estado da Bahia (Uneb), com 1202 professores (53% do total). Em segundo lugar, vem a Universidade Federal da Bahia (UFBA) com 926 – 29% dos professores.

Como mudar esse quadro? Apesar das conquistas obtidas, como o Estatuto da Igualdade Racial, que completou 10 anos em 2020, é preciso avançar na inclusão da população negra na sociedade. Por isso, o primeiro passo é combater o racismo, que ainda é uma ferida aberta no Brasil.

Cabe a todos nós lutar pela presença real de negros e negras no mercado de trabalho e nas universidades. Tal medida, além de inclusiva, garante a construção de um mundo mais igualitário e representativo. Esse cenário fortalece laços e impulsiona o país para voos maiores. É hora de mudar conceitos!

Fonte: APUB

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