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Publicado em 10 de maio de 2022 às 16h55min
Tag(s): Defesa de Direitos
As condições de emprego e renda da população pioraram muito nos últimos anos. A precariedade no trabalho reflete o desmonte de políticas públicas promovido por governos que preferem direcionar os recursos para programas de segurança caros e pífios, que matam negros nas favelas, em vez de investir em projetos de estímulo à geração de vagas capazes de beneficiar famílias dentro e fora das periferias.
Não bastasse essa (des)orientação perversa do uso dos recursos públicos, ainda lidamos com os reflexos de reformas trabalhistas e outros retrocessos que retiram e enfraquecem direitos, jogando milhares de trabalhadores na miséria.
Mas cada trabalhador tem um nome e uma vida por que resistir.
Eu me chamo Mônica Santos Francisco e sou uma mulher negra, nascida e criada no Morro do Borel, na Zona Norte do Rio. Eu comecei a trabalhar aos 14 anos numa fábrica de tecidos. A partir daí, em nome da sobrevivência, passei por diversos postos de trabalho precarizados, reconhecidos como subempregos, mas que, até hoje, costumam ser ocupados por mulheres negras, pobres e faveladas como eu. Fui empregada doméstica, auxiliar de serviços gerais, atendente em lanchonete, operária em uma fábrica de prata, empacotadora de supermercado. Com aquela plaquinha “compro ouro”, fiquei muitas horas na Praça Saens Peña.
Aos 38 anos, fui aprovada por cotas no vestibular e, hoje, sou cientista social formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Ao longo dessa trajetória, eu me envolvi com lutas coletivas e me tornei uma defensora dos direitos humanos. Atualmente, estou deputada estadual e entrei para a História como a primeira mulher negra presidente da Comissão de Trabalho da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Minha experiência e meu papel institucional me qualificam para avaliar a situação do trabalho e da vida do trabalhador neste país. Salta aos olhos a quantidade cada vez maior de pessoas em trabalhos desprotegidos - sem carteira assinada, sem férias, sem aposentadoria, sem direitos.
A informalidade engole a vida dos brasileiros, principalmente os pobres, pretos e favelados.
O estado do Rio tem 1,3 milhão de trabalhadores desempregados, o que equivale a uma taxa de desocupação de 14,2%. Desse total, a maior parte é negra: 63,5% (816 mil), segundo dados do terceiro trimestre de 2021 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Se incluirmos os trabalhadores desalentados, subocupados (por insuficiência de horas) e os que estão fora da força de trabalho, a taxa de desemprego no estado do Rio sobe de 14,2% para 22,3%, e o total de trabalhadores desempregados chega a 2 milhões.
Mais uma vez, os negros são os mais afetados: 1,3 milhão, enquanto os brancos representam 700 mil.
A mesma pesquisa mostra que 3 milhões de pessoas tentam se sustentar em trabalhos informais e precários no território fluminense. Isso equivale a uma massa de 39% dos 7,8 milhões de trabalhadores ocupados no estado. A miséria assombra e ameaça ainda mais as mulheres negras. Elas correspondem a 45% da população do Rio em trabalhos precarizados, enquanto as mulheres brancas representam 33%. Homens negros nesta situação equivalem a 39%, e brancos, 33%.
O Brasil verde e amarelo ostenta, mas é decadente. A renda média do trabalhador brasileiro caiu 9,7% no trimestre encerrado em janeiro de 2022 em relação ao mesmo período de 2021, ficando em R$ 2.489. Em relação ao trimestre encerrado em outubro do ano passado, o valor teve queda de 1,1%, segundo a Pnad Contínua.
O endividamento atinge 77,7% das famílias brasileiras, maior patamar desde 2010, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. O salário dos brasileiros não acompanha a inflação de 21% acumulada nos últimos três anos. Apesar disso, desde 2019, o trabalhador fluminense está sem reajuste do piso salarial. E o governo de Cláudio Castro não apresenta um plano de combate ao desemprego e nem proposta de aumento do piso regional.
Como se não bastasse, a cesta básica ficou 33% mais cara desde o início da gestão Bolsonaro e, sozinha, equivale a 83% do poder de compra real do salário mínimo regional. No mesmo período, o gás de cozinha subiu 110,1%. A vida está difícil e o presidente do país e o governador Cláudio Castro (PL) se preocupam mais em criar narrativas do que em matar a fome da população.
Nada disso ocorre ao acaso. Tudo é fruto de uma mesma ideologia que governa para poucos e despreza pobres, pretos, mulheres, população LGBTQIA+ e povos originários. Precisamos fazer uma transição de uma visão de mundo excludente para outra que, embora imperfeita, defende direitos, renda, trabalho, saúde, educação, moradia e alimentação para todos. No mês do trabalhador, vamos nos unir e fazer despertar quem ainda segue do lado errado. A hora é agora.
*Mônica Francisco é deputada estadual pelo PSOL e presidente da Comissão de Trabalho, Legislação Social e Seguridade Social da Alerj.
*Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Mariana Pitasse
Fonte: Brasil de Fato