Pesquisa escancara desigualdade educacional e aponta que falta de investimento na pandemia prejudicou a educação

Publicado em 03 de agosto de 2022 às 13h15min

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Menos da metade dos estudantes brasileiros (39%) tiveram acesso as aulas de reforço durante o isolamento provocado pela pandemia de Covid-19, o que aumentou a desigualdade educacional.

Os dados são da pesquisa “Educação na perspectiva dos estudantes e suas famílias”, realizada pelo Datafolha, que traça os desafios na recomposição da educação básica com a volta das aulas presenciais no Brasil e mostra que falta de investimento na pandemia prejudicou a educação.

Segundo o levantamento, 34% dos alunos do ensino médio receberam apoio psicológico, outros 28% estão fortemente inclinados a abandonar os estudos. No Norte e Nordeste a situação é ainda pior, sobretudo em unidades das redes municipais.

Para a professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Dra. Marilda Gonçalves Dias Facci, o resultado da pesquisa reflete a falta de investimento na educação pública brasileira, sobretudo durante a pandemia de Covid-19. Para ela, os professores se sentem amedrontados, desvalorizados, por conta do pouco investimento na educação pública. “Vivemos uma situação de exploração da classe trabalhadora em relação ao seu trabalho”, diz.

“Temos que trabalhar com política de valorização do trabalho do professor, dar estrutura física, ou seja, uma infraestrutura na escola para que os professores e alunos possam ter um ambiente adequado, o docente para ensinar e o discente aprender”, continua a professora.

Após dois anos de pandemia, professores/as e estudantes ainda lidam diariamente com diversos desafios como a ausência de estrutura em salas de aulas, dificuldade de adaptação ao ensino remoto, perda da convivência com o meio escolar, falta de estudo adequado para o Enem, e até a falta de merenda escolar, que é uma das poucas refeições nutritivas feitas no dia.

Omissão do governo

De acordo com um relatório aprovado no mês passado pela Comissão de Educação da Câmara, o governo de Jair Bolsonaro foi omisso nas ações para reduzir os impactos negativos da pandemia na educação.

Muitas escolas foram fechadas, muitos alunos ficaram sem internet e sem conseguir ter acesso às lições, o que resultou nos efeitos negativos na educação básica. O relatório concluiu ainda que o Ministério da Educação teve um desempenho precário e falhou na coordenação de políticas educacionais, deixando estados e municípios desamparados.

O pesquisador de políticas educacionais e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Fernando Cássio, afirma que o governo federal aprofundou a desigualdade educacional no Brasil, que teve início com o governo de Michel Temer (MDB).

“O governo do Bolsonaro aprofundou uma série de coisas com agendas educacionais reacionárias que são relacionadas ao retrocesso. O MEC está mais preocupado em fazer balcão de negócios, loteamento e enfiar políticas contra raça, gênero, etc.”, afirma.

Pais relataram dificuldade

A pandemia impactou na rotina da casa e muitos pais se sentiram sobrecarregados e relataram dificuldade de conciliar o trabalho com aulas online dos filhos. Para a maioria dos pais, a falta de equipamentos adequados em casa, como computadores e celulares, foi um dos principais problemas enfrentados durante a suspensão das aulas presenciais.

De acordo com dados da UNICEF, para se ter uma ideia do impacto devastador da Covid-19 na educação, mais de 137 milhões de crianças e adolescentes ficaram sem atividades escolares na América Latina e no Caribe. Se contarmos apenas o Brasil, são 4 milhões de estudantes do ensino fundamental sem acesso a nenhuma atividade escolar.

Segundo Marilda, além dessas dificuldades, há muitos professores e professoras afastados da sala de aula por adoecimento - houve um acirramento da precarização do trabalho.
“Com a pandemia as condições de trabalho só pioraram porque o professor ou a professora teve que trabalhar por conta própria, utilizar os seus recursos e equipamentos e sua própria casa para dar aula”, reitera.

Fonte: CNTE

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