Grito dos Excluídos: a voz dos que ainda buscam Independência

Publicado em 05 de setembro de 2022 às 15h05min

Tag(s): Manifestação



Em 2022, as comemorações oficiais do Bicentenário da Independência do Brasil começaram de forma polêmica, com a chegada do coração de D. Pedro I ao nosso país. O gesto escancara uma supervalorização da historiografia tradicional, entendendo que as terras brasileiras teriam sido "descobertas" pelos exploradores portugueses, e ainda reforçando a ideia da existência de "heróis salvadores".

Na contramão desse pensamento, há 28 anos, um movimento brada as reais necessidades do povo brasileiro: o Grito dos Excluídos e Excluídas. Na busca por dar voz àqueles que foram silenciados desde antes da Independência, a data de 7 de setembro foi escolhida como uma reflexão crítica, para que esse grito seja ouvido no mesmo dia em que aconteceu o Grito da Independência do Brasil. Este ano, em Natal, o ato será realizado a partir das 9 horas, com concentração em frente ao Teatro Alberto Maranhão, na Ribeira. 

O ADURN-Sindicato se junta às vozes que fazem o Grito dos Excluídos e Excluídas, reforçando o seu compromisso na luta por uma sociedade mais justa e igualitária, uma realidade que só será possível se tivermos lideranças comprometidas com as demandas do povo. 

Sobre o Movimento

O primeiro Grito dos Excluídos e Excluídas foi às ruas em 1995 com o lema "A Vida em Primeiro Lugar", inspirado na Campanha da Fraternidade daquele ano, que tinha como mote: “A fraternidade e os excluídos”. O momento no país era de introdução da nova moeda, o Real, que contribuiu com uma relativa redução da pobreza, mas sem surtir efeito na desigualdade social brasileira.

A partir de 1996, as manifestações foram assumidas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que aprovou o Grito em sua Assembleia Geral, como parte do Projeto Rumo ao Novo Milênio (PRM), e mantido desde então pela CNBB e por movimentos sociais. 

Atualmente, o Grito ecoa por mais de 200 cidades brasileiras, quando o povo sai às ruas para clamar por igualdade, justiça social, contra a fome, por empregos decentes, saúde e educação para todos.

No Brasil de 2022, essa voz  tem um peso ainda maior. Enquanto as lideranças do país estão focadas na corrida eleitoral, o brasileiro, que há pouco enfrentou uma pandemia responsável por levar a vida de mais de 600 mil pessoas, ainda precisa lidar com o crescimento da fome, da inflação e com a falta de compromisso do governo de Jair Bolsonaro com o povo.

E são os ‘excluídos’ os mais atingidos por esse cenário. Enquanto os números da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) apontam que 33 milhões de brasileiros vivem em situação de fome e outros 100 milhões de brasileiros vivem na condição de insegurança alimentar, o 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho de 2022, mostra que 78% das vítimas de mortes violentas no Brasil são negras.

Já o levantamento do Dossiê de Mortes e Violência contra LGBTI+ no Brasil mostra que o país continua sendo o que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo pelo quarto ano consecutivo. O relatório o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil aponta que das 1.393 terras indígenas no Brasil, 871 seguem com alguma pendência para sua regularização. Destas, 598 permanecem sem nenhum trâmite feito por parte do Estado, o que contribui para o crescimento da violência contra os povos indígenas

O Brasil também ocupa o 5º lugar no ranking mundial de Feminicídio, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). O país só perde para El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia em número de casos de assassinato de mulheres

Esses são números para lembrar que neste 07 de setembro de 2022 não há muito a ser comemorado. Por isso, o mote do Grito dos Excluídos de 2022 é bem claro: "200 anos de Independência''. Para quem?”. O objetivo é enfatizar que a independência não ocorreu de fato para todos os brasileiros e brasileiras. 

ADURN Sindicato
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