O que esperar da dobradinha Camilo-Izolda no Ministério da Educação

Publicado em 22 de dezembro de 2022 às 09h49min

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A governadora do Ceará, Izolda Cela, sem partido, era a favorita entre os especialistas para comandar o Ministério da Educação no governo Lula. Pressionado pelo PT, entretanto, o presidente eleito ofereceu o cargo a um quadro do partido: Camilo Santana, senador eleito e antecessor dela no governo estadual. 

Camilo será confirmado ministro da Educação. E Izolda, a secretária Nacional de Educação Básica.

A dobradinha foi a saída encontrada pelo presidente Lula para resolver o tensionamento dentro do PT e contemplar o Ceará, um estado que garantiu quase 70% dos votos no Estado para o petista nas eleições presidenciais. 

Pesou também o fato de seu terceiro mandato ter como uma das prioridades a educação básica. O presidente tem dito que, depois de promover uma revolução na educação superior, pretende focar agora na educação básica. Ele reconhece os impactos que a pandemia provocou na aprendizagem e agora quer investir na alfabetização e em escolas técnicas e em tempo integral. 

A política educacional cearense que hoje é  referência no país teve seu embrião em Sobral, mas foi a  partir de 2007, com a criação do Programa Alfabetização na Idade Certa (Paic) implantada no governo Cid, que ganhou uma dimensão maior. O Paic tinha como meta alfabetizar crianças até os 7 anos de idade, por meio de um regime de cooperação entre Estado e municípios. O programa passou a oferecer formação continuada aos professores, apoio à gestão escolar e material estruturado. 

Em 2011, as ações foram expandidas até o 5º ano. Em 2015, foi lançado o Mais Paic, levando o programa a todas as turmas do ensino fundamental até o 9º ano. Em 2019, de acordo com os dados do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará, todos os 184 municípios cearenses atingiram o nível desejável de alfabetização. Além disso, 92,7% das crianças estavam alfabetizadas ao término do 2º ano.

Neste aspecto, tem tudo para dar certo a dobradinha Camilo-Izolda. Reconhecido por sua capacidade de articulação, Camilo tem a atual governadora como seu braço direito, numa relação de lealdade e muita sintonia. 

Reconhecida pelo trabalho que iniciou quando secretária de Educação do município de Sobral e na secretaria estadual da área, ambas sob a chefia de Cid Gomes (PDT), Izolda é artífice da boa fama que a educação no Ceará conquistou nacionalmente.

Ex-deputado estadual, ex-secretário de Desenvolvimento Agrário e de Cidades no governo Cid Gomes e ex-governador por dois mandatos, Camilo Santana é dono do maior capital político no Ceará. Agora no MEC, ele engorda a lista de petistas a se cacifar como opção para suceder o presidente Lula, que já avisou que não tentará a reeleição. Também fazem parte desse rol Rui Costa, que vai assumir a Casa Civil, Fernando Haddad, próximo ministro da Fazendo, e Flávio Dino, ministro da Justiça a partir de 1º janeiro. 

Mesmo com o rompimento da aliança com o PDT, o senador eleito ainda é muito próximo dos Ferreira Gomes, principalmente de Cid, com quem tem relação pessoal. Izolda também é “cria” dos Ferreira Gomes, mas, com o rompimento, deve se filiar ao PT, engrossando a fileira petista de sua família, já que seu marido e filha são membros do partido.

A Secretaria de Educação do Ceará colhe hoje o resultado dos anos de investimento e atenção à educação pública. Em 2021, mesmo com a pandemia, o Ideb revelou que o Ceará permaneceu com o melhor resultado do país nos anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e conquistou o 2º lugar nos anos iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano).

 O estudo mostrou ainda que 30 municípios e 87 escolas públicas estão entre os 100 melhores resultados do país nos anos iniciais do Ensino Fundamental e as dez melhores são do Ceará. Nos anos finais, 25 municípios e 70 escolas estão no ranking dos 100 melhores resultados e entre as 10 melhores escolas, oito são do Ceará. O desempenho na educação básica e fundamental no Estado repercute também no ensino médio. De acordo com a Secretaria de Educação, o Ceará tem 23 entre as 100 melhores escolas deste nível, ocupando a 3ª posição nacional, liderando o Nordeste ao lado de Pernambuco.

Tanto Camilo Santana quanto Izolda Cela foram contatados através de suas assessorias, mas preferiram não se pronunciar. Da parte da governadora, a justificativa é de que ela falaria depois de que o presidente Lula oficializasse e tornasse pública a indicação.

Questões de gênero

Apesar da promessa de paridade no primeiro escalão do governo, as mulheres cotadas para chefiar ministérios no governo Lula têm enfrentado resistência nos bastidores.

Foi o caso, por exemplo, da sanitarista Nísia Trindade, favorita para comandar o Ministério da Saúde, e da própria Izolda Cela.

“Mesmo sendo unanimidade do ponto de vista das suas qualificações e de ser um quadro técnico de respaldo na área da educação, ela foi preterida”, lamenta a socióloga Monalisa Torres, professora da Universidade Estadual do Ceará, acrescentando, no entanto, que Camilo Santana também é uma bom nome para comandar a pasta.  “A expectativa é de uma dobradinha de sucesso.”

Um dos projetos de maior relevância implantado por Izolda Cela, lembra a pesquisadora, foi Paic – associado a um trabalho de qualificação permanente do quadro de professores, além de investimento na compra e distribuição de material de qualidade nas escolas públicas. “É uma política de longo prazo, que vem sendo construída, implementada, ampliada, reforçada e melhorada ao longo de anos”, diz. 

A cientista política cearense e professora da Universidade Federal de Alagoas, Joyce Martin, embora reconheça as qualificações de Camilo Santana, critica o fato de Izolda ter sido preterida.

“A Izolda seria a indicação natural. Mais uma vez, a nossa política institucional, dominada por homens, colocou a mulher no papel secundário. E a Izolda é protagonista. Foi responsável pela incrível melhora na alfabetização do Ceará. Foi a primeira governadora do Estado”, enumera. “Uma chance perdida de mostrar compromisso com a representatividade e com a igualdade de gênero.”

Fonte: CartaCapital

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