Pesquisadores de Natal debatem na Itália negritude brasileira e imaginários coloniais

Publicado em 04 de outubro de 2023 às 14h51min

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Redes anti-coloniais de artistas e ativistas negros entre as décadas de 1920 e 1950; a construção de imaginários coloniais através da organização urbana em Portugal e no Brasil; o pensamento de intelectuais e artistas negros brasileiros da segunda metade do século vinte como Abdias Nascimento, Lélia González e outros; a obra e as vivências da poeta negra brasileira Conceição Evaristo. Esses são os temas de uma série de conferências que pesquisadores do Rio Grande do Norte ministrarão esta semana nas cidades de Siena e Florença, na Itália.

A pesquisadora potiguar Elizabeth Olegário, doutoranda em Estudos Portugueses na Universidade Nova de Lisboa, e o professor Antonino Condorelli, do Departamento de Comunicação Social da UFRN, foram convidados por instituições escolares, acadêmicas e não-governamentais locais a conversar com o público na região italiana da Toscana, berço da Renascença na Europa do século XVI.

O primeiro encontro será nesta quarta-feira (4), no Departamento de Ciências Sociais, Políticas e Cognitivas da Universidade de Siena, uma das mais antigas da Europa, onde os pesquisadores debaterão os temas “Redes anti-coloniais: New Black Movement, Afrocubanismo e Négritude” e “O pensamento crítico negro brasileiro”, com a mediação do professor Giovanni Gozzini, do curso de Ciências da Comunicação da instituição italiana.

A segunda conversa ocorrerá na quinta-feira (5) com turmas do último ano do Liceo Classico Statale Galileo de Florença, um dos mais antigos colégios públicos de ensino médio da Itália, sobre o tema “A construção e reprodução de narrativas e imaginários coloniais através da organização urbana”, onde os espaços urbanos de cidades como Lisboa, São Paulo e Natal serão examinados sob a ótica dos imaginários históricos que produzem e das histórias que ocultam.

A terceira e última intervenção está confirmada para o próximo sábado (7), num espaço vinculado à associação intercultural Nosotras de Florença, composta por mulheres de diversos países do Sul Global residentes na cidade e voltada para ações de empoderamento feminino em uma perspectiva de diálogo cultural e enfrentamento da violência de gênero. Essa última conversa abordará, desta vez em uma perspectiva não acadêmica, alguns autores clássicos do pensamento crítico negro brasileiro e a obra e as vivências da poeta e narradora negra Conceição Evaristo, considerada uma das maiores escritoras brasileiras vivas.

Apesar da visibilidade que algumas pensadoras negras brasileiras contemporâneas, como a paulista Djamila Ribeiro e a baiana Carla Akotirene, vêm ganhando nos últimos anos na Europa graças à tradução e à publicação em vários países de algumas de suas obras, segundo o professor Antonino Condorelli “a longa e riquíssima tradição de pensamento, artística e ativista negra brasileira, que infelizmente continua apagada e quase invisível nos ambientes intelectuais e acadêmicos do país, dominados pela branquitude, é ainda menos conhecida fora do Brasil”.

Por isso, continua o estudioso de pensamentos decoloniais e comunicação, “eventos como esses são importantes oportunidades para fazer conhecer ideias que desde as margens do sistema jogam luz sobre alguns de seus mecanismos de opressão, como o racismo, que têm sua origem no colonialismo e não atuam apenas no Brasil, mas em todo o mundo moderno”.

As falas de Condorelli abordarão alguns dos principais conceitos e discussões dos pensadores e ativistas negros Abdias Do Nascimento (1914-2011), Beatriz Nascimento (1942-1995), Lélia González (1935-1994), Clóvis Moura (1925-2003) e Sueli Carneiro (1950-). O papel de intelectuais brancos como ele, afirma o professor, não é o de falar “em nome” ou “pelas” pessoas racializadas, mas de mostrar aos outros brancos que os grupos oprimidos não só têm voz, como a usam há muito tempo, e despertar o interesse por ouvi-los.

A pesquisadora Elizabeth Olegário lembra que, desde no início do século vinte, intelectuais e escritores negros se organizaram e criaram uma grande comunidade internacional. De acordo com a estudiosa, os jornais, as revistas, as traduções e as antologias literárias foram instrumentos de aproximação, criaram uma grande rede e estimularam as lutas coletivas. Olhar para aqueles anos, segundo Elizabeth, é compreender um passado de luta e mirar-se nele. “A arte e a literatura nesses anos tiveram um papel fundamental”, diz, e prossegue lembrando as palavras do filósofo e escritor angolano Luis Kandjimbo: “as manifestações parecem ser a arma de reivindicação mais contundente, no entanto a literatura contribui de igual modo para o exercício das liberdades“. É por isso que o foco das intervenções dela nos eventos desta semana em Siena e Florença será o papel da literatura como um instrumento de conscientização das lutas coletivas.

Elizabeth Olegário, de origem indígena e nascida no bairro de Mãe Luíza em Natal, é formada em Língua e Literatura Portuguesa pela UFRN, mestre em Comunicação e Culturas Midiáticas pela UFPB e está concluindo doutorado em Estudos Portugueses na Universidade Nova de Lisboa (Nova), cidade onde reside há seis anos. Bolsista da Fundação para a Ciência e Tecnologia de Portugal, é pesquisadora do Grupo de Investigação em Leitura e Formas de Escrita do Centro de Humanidades da Nova, além de membro de grupos de pesquisa de universidades brasileiras e de associações acadêmicas e não-acadêmicas portuguesas.

Já Antonino Condorelli é professor italiano que reside há mais de 20 anos em Natal. É formado em Ciências da Comunicação pela Universidade de Siena, a instituição onde será realizada a primeira das conferências das quais participará esta semana, e é mestre em Educação e doutor em Ciências Sociais pela UFRN. É professor e pesquisador do Departamento de Comunicação Social da UFRN, onde é membro do Grupo Galeano de Estudos e Pesquisas Latino-Americanas em Comunicação Social e fundador do grupo de estudos Descolonizando a Comunicação – Descom

Fonte: Saiba Mais

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