Nicolelis explica divergências

Publicado em 28 de julho de 2011 às 11h01min

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O neurocientista e coordenador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal (IINN), Miguel Nicolelis, se reuniu no início da tarde de ontem com a reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Ângela Paiva, para discutir assuntos ligados à polêmica da transferência de equipamentos do Campus do Cérebro, em Macaíba, para o Instituto do Cérebro da universidade, cuja sede provisória fica em Lagoa Nova.
Antes e após a reunião, ele preferiu não falar à equipe da TRIBUNA DO NORTE, lembrando que irá se pronunciar oficialmente em uma coletiva marcada para 13h30 de hoje, no canteiro de obras da Escola Lygia Maria, em Macaíba, local onde funcionará o futuro Campus do Cérebro, uma parceria do IINN com a UFRN. Já pelo microblog Twitter, Nicolelis fez várias declarações em resposta a internautas.
Em alusão ao grupo liderado pelo cientista Sidarta Ribeiro, um dos parceiros na criação do IINN e atual diretor do Instituto do Cérebro da UFRN, Nicolelis escreveu: "Alguns cientistas acharam que o próprio umbigo era mais importante que a missão do IINN-ELS! Amanhã (hoje) tudo vem à tona!" Respondendo a outro internauta, disse se tratar de "calúnia" a acusação de que seu grupo estaria dificultando o acesso dos professores e estudantes da universidade aos equipamentos já em operação em Macaíba.
"Calunia pura! Que será respondida à altura amanhã (hoje) pela UFRN e AASDAP! Nós disponibilizamos a estrutura toda para esse grupo!" Ele ressaltou que há regras para utilização e a própria Aasdap, organização mantenedora do IINN, contribuiu com o trabalho dos pesquisadores da UFRN. "Como qualquer instituição, temos normas que esse grupo não aceitava seguir. Mas acesso a eles era total e irrestrito (…), o IINN-ELS pagou com recursos privados 70% do custo operacional da infraestrutura necessária para manter esse grupo."
O neurocientista negou haver uma crise ("Nenhuma casa está caindo! Nossas operações continuam ininterruptas") e reforçou a parceria com a universidade. "Não vamos abandonar alunos e cientistas da UFRN que queiram colaborar conosco. O fato de meia duzia não querer, não afeta nada!"
Ele minimizou ainda mais o problema: "Nossas escolas, centros de pesquisa e centro de saúde estão em plena operações. Desistência de meia duzia de cientistas não nos afetou! (…) Não houve nenhuma separação da UFRN. Apenas um grupo pequeno de cientistas da UFRN. Tem muito mais gente na UFRN".
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE conseguiu um contato por telefone com Sidarta Ribeiro e solicitou um pronunciamento a respeito da polêmica. O cientista respondeu apenas: "Esperem um pouco." Além dos contatos telefônicos, a reportagem enviou e-mails ao cientista Sidarta Ribeiro durante dois dias. Ele foi questionado sobre as declarações de Miguel Nicolelis e quais os detalhes das divergências expostas. Sidarta não respondeu aos questionamentos.
Polêmica envolve equipamentos
A polêmica entre o grupo ligado ao Instituto de Neurociências, comandado por Miguel Nicolelis, e o Instituto do Cérebro da UFRN, dirigido por Sidarta Ribeiro, ganhou repercussão após a transferência de equipamentos, comprados com recursos federais e que aguardavam a conclusão de dois prédios do futuro Campus do Cérebro, em Macaíba, para a sede provisória do Instituto do Cérebro, em Lagoa Nova.
A transferência ocorreu na última segunda-feira, com conhecimento de ambas as partes, e incluiu apenas material que não vinha sendo utilizado, mas marcou a possível cisão entre os dois grupos de pesquisadores. A razão do pedido para que os equipamentos voltassem para Natal (alguns que estavam em uso foram mantidos em Macaíba) teria sido a discordância dos pesquisadores da UFRN em relação às regras de acesso aos equipamentos e também quanto à divisão de espaços, definidas pela Aasdap, organização que mantém o IINN e com quem a UFRN assina oficialmente as parcerias.
O valor total dos equipamentos é de R$ 6 milhões, incluindo os transferidos e os que permaneceram em Macaíba. De acordo com a reitora Ângela Paiva, o investimento total nos primeiros dois prédios do Campus do Cérebro é de R$ 42 milhões, e a expectativa de conclusão das obras é entre o final de 2011 e o decorrer de 2012.
A reitora afirmou que espera ver os dois grupos trabalhando juntos. Ela também destacou a parceria da UFRN com a Aasdap, celebada há oito anos.

Bate-papo
Ângela Paiva » reitora da UFRN
O que foi discutido na reunião com Miguel Nicolelis?
Falamos sobre a continuidade da discussão da parceria, que nós precisamos aperfeiçoar.
Miguel Nicolelis citou no Twitter que parte dos recursos que bancavam o grupo do Instituto do Cérebro da UFRN vinha da iniciativa privada, através do Instituto de Neurociência. Declarações como essa podem potencializar a divergência entre as partes?
Bom, o financiamento desse projeto de neurociências tem um setor de captação de recursos junto a setores privados e outra parte do setor público, dos ministério da Educação e da Ciência e Tecnologia. Então, de fato, todos os envolvidos no projeto sabem, colaboradores e professores, que a parceria é público-privada, desde o início. Então não acho que isso potencialize, porque é algo de conhecimento público.
Se os grupos trabalharem em separado, a senhora teme que as pesquisas não alcancem as metas?
Na verdade você falou bem: é um "se". E nós estamos, UFRN, trabalhando por uma conjunção de esforços para que a pesquisa continue com os grupos integrados.
A senhora percebeu, na reunião com Miguel Nicolelis, que há condições de ele voltar a dialogar com Sidarta Ribeiro?
Não posso fazer essa avaliação. As pessoas são como são. Cada uma tem seu jeito de se comportar, mas o projeto coletivo que move o lado da Aasdap e o lado da UFRN é um projeto de todos. As decisões passam pelas pessoas, mas as instituições vão trabalhar pela cooperação.
O pedido feito pelos pesquisadores da UFRN tratava também de problemas sobre a divisão de espaços em Macaíba para os pesquisadores da universidade?
Bom, o grupo cresceu enormemente. Com a chegada de novos professores, o grupo de pesquisa, em termos de estudantes de mestrado e doutorado, também cresce. O compartilhamento de espaço e equipamentos têm regras de uso, até porque há equipamentos que têm certos limites de espaço de tempo e de espaço físico. Então as regras são colocadas e, de fato, esse é um momento importante da cooperação, porque hoje estamos completando um grupo de pesquisa pelo lado público, da UFRN, e certamente pela Aasdap outros colaboradores devem estar se integrando ao grupo. E esse grupo vai ficando muito grande. Então, compartilhar equipamentos e espaços é algo que precisa ser renegociado, nesse panorama de mais gente trabalhando e mais pesquisadores demandando tanto espaço, quanto equipamentos.
Ao final das obras, os equipamentos retornam à Macaíba?
Sim. Com todo o funcionamento do Campus do Cérebro, todos os espaços construídos, o projeto é de ter um compartilhamento dos espaços, em pavimentos, em setores, pois se trata de uma obra grandiosa e dá para comportar até um grupo maior de pesquisa.
A senhora está otimista que a "bandeira branca" seja hasteada e haja entendimento entre os dois grupos de pesquisadores?
Estamos trabalhando para isso.

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