Obras do Campus do Cérebro não foram afetadas

Publicado em 11 de agosto de 2011 às 15h44min

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Independente da polêmica cisão entre os neurocientistas Sidarta Ribeiro e Miguel Nicolelis, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte não mudou o ritmo da construção do Campus do Cérebro. A obra está bastante acelerada, segundo o superintendente de Infraestrutura da UFRN, Gustavo Fernandes Rosado Coelho, tanto que a primeira fase - que inclui a construção do Centro de Pesquisas e da Escola Lygia Laporta, deve ser finalizada em meados de 2012.
O Campus do Cérebro envolve recursos da ordem de R$ 42,7 milhões, exclusivamente públicos. A verba, segundo explicou Gustavo Fernandes, é oriunda do Ministério da Educação, sendo R$ 36 milhões destinados para a construção dos dois prédios. A principal delas é a do prédio do Centro de Pesquisas, licitado em mais de R$ 17 milhões. Com três pavimentos e um subsolo, o prédio terá 14 mil 848 metros quadrados.
É nessa área que vão ser instalados o Instituto do Cérebro da UFRN [dirigido pelo biólogo e pesquisador Sidarta Ribeiro] e o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra [dirigido pelo neurocientista Miguel Nicolelis]. A estrutura de cada pavimento do prédio é a mesma, possuindo salas para pesquisadores e professores; sala de estudos; laboratórios; biotérios e uma área administrativa.
O Centro terá ainda um auditório e uma área de convivência comum. Segundo o superintendente de Infraestrutura, pelo cronograma da obra, esse prédio deve ser entregue em julho do ano que vem. "Depois de uma série de ajustes nos projetos, estamos com um ritmo e condições interessantes de execução". Informações apuradas pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE junto a outras fontes da UFRN dão conta de que, até agora, em torno de 15% a 20% dessa obra foi executada.
No local, se vê que a obra está em fase de infraestrutura e fundações dos blocos centrais. "Estamos levantando a primeira das três lajes", disse Gustavo Fernandes. Já a construção da escola Lygia Laporta está em fase mais adiantada, com mais de 50% executada. O prédio deve ser entregue em março de 2012. Na terça-feira pela manhã, a equipe de engenheiros da Superintendência de Infraestrutura fez apresentação do projeto e de como está o andamento das obras para o grupo de pesquisadores do Instituto do Cérebro da UFRN. "Mostramos como estão as duas obras, até para fazer os ajustes necessários nas áreas dos laboratórios do centro de pesquisa".
A obra está sendo tocada pela empresa Edcon Comércio e Construções Ltda, de Fortaleza (Ceará), com 350 operários. O Campus do Cérebro está localizada em uma área de 100 hectares, uma fração do terreno da Escola Agrícola de Jundiaí, que ocupa 1.250 hectares e pertence a UFRN. Existe, no entanto, uma cessão do terreno do Campus do Cérebro por parte da UFRN à Associação Santos Dumont para Apoio à Pesquisa (Aasdap).
Pesquisa cresce 356% em dez anos
Apesar de a pesquisa ter um crescimento estrondoso na UFRN - em dez anos, o volume de projetos cresceu mais de 356% (de 475 projetos de pesquisa, em 2000, para 1.912, em 2010) há ainda um grande desafio: o da inovação. "É de alta qualidade a pesquisa que fazemos aqui, porém não temos que aumentar somente a produção de artigos científicos, dissertações e teses, mas de patentes", afirmou o pró-reitor de Pesquisa, Valter José Fernandes Júnior.
A nova gestão tem como marca continuar crescendo a pesquisa, mas sinalizando fortemente para o apoio à projetos de inovação e empreendedorismo. "Vamos trabalhar para um aumento número de patentes, nos diversos centros acadêmicos", avisa. Com a inovação - assinalou - "se reconhece o conhecimento que é gerado na universidade de uma maneira mais palpável e de uma forma que possa ter um retorno, agregando valor a uma série de áreas".
A visão é de crescimento consistente, segundo ele, buscando sempre novas fontes de fomento, sem esquecer que são os pesquisadores que dão sustentação à inovação. "Antigamente, não tínhamos equipamento, estrutura, tínhamos que mandar materiais para análise fora, na USP. Hoje, eles estão vindo pra cá pelas excelentes condições de infraestrutura da UFRN. Houve um salto qualitativo e quantitativo".
A consolidação dos grupos de pós-graduação, segundo ele, foi fundamental para a evolução científica, pois as duas áreas - pós-graduação e pesquisa - estão ligadas umbilicalmente. A qualidade da pesquisa, destacou, pode ser avaliada pelos indicadores da produção científica, mensurada em diversos portais eletrônicos, como o Periódicos Capes. Esse portal dá acesso ao que há de melhor em termos de material científico publicado, no país.
É nele que os pesquisadores da UFRN incluem seus trabalhos, além de publicá-los em revistas nacionais e internacionais. Além disso, através do sistema Lattes é possível fazer uma prospecção da produção institucional dos pesquisadores da UFRN. "Se fizermos um paralelo entre Brasil e Coreia do Sul, que cresceu absurdamente os indicadores de produção científica, estamos já bem próximos", afirmou o pró-reitor
Segundo o índice SIR - Scimago Institutions Rankings (www.scimagoir.com), que avalia as instituições de ensino superior pela atividade de pesquisa, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) é a 20ª universidade mais qualificada entre as 109 universidades brasileiras e está em 35º lugar entre as 459 universidades da América Latina e Caribe.
A internacionalização das pesquisas é um dos critérios de avaliação das instituições de ensino superior, feita pelo Ministério da Educação. A Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (Capes) avalia os programas de pós-graduação das universidades através de conceitos que variam de 1 a 5, no mestrado, e até 7 no doutorado. A UFRN tem nove programas de pós-graduação conceituados com nota 5 ou 6.
Procura por Neurociências é dez vezes maior
O eixo da Neurociência agrega 24 disciplinas e um estágio supervisionado, com 1.440 horas-aula. Neste semestre, o Instituto do Cérebro, da UFRN, uma Unidade Acadêmica Especializada, está oferecendo dez dessas disciplinas. E a demanda por matrícula superou todas as expetativas: o número de pré-inscrições é dez vezes maior que o registrado no primeiro semestre. Na época, 20 alunos se inscreveram em sete disciplinas. Agora, 203 fizeram solicitações.
"É um crescimento espantoso", diz o pesquisador Claúdio Queiroz, que concluiu seu pós-doutorado na Universidade de Amsterdam, na Holanda e atualmente coordena a o eixo de neurociência na Graduação. As disciplinas desse eixo são oferecidas para alunos que já cursaram três períodos na UFRN, com sólida formação em matemática e computação. As aulas são realizadas na Escola de Ciência e Tecnologia da UFRN.
Neste segundo semestre, segundo Cláudio Queiroz, um fator que favoreceu a alta demanda foi a abertura do eixo de Neurociência para alunos de cursos de diferentes áreas da graduação. "Na sala de aula, a plateia será diversa. É um desafio muito grande dialogar com essa multidisciplinaridade. Nas aulas de Neurocinema e História de Neurociência vamos ter alunos de, pelo menos, 16 cursos diferentes". Em Neurocinema, por exemplo, o objetivo é estudar as bases da percepção de movimento.
O cérebro humano é uma grande máquina de eletricidade, observa o pesquisador, e como tal, sempre despertou interesse de pensadores e estudiosos, desde Platão. Outras importantes disciplinas são: a Biofísica Neural, voltada para o desenvolvimento científico tecnológico; e a de Neuroquímica, que estuda a relação entre a estrutura química de certas moléculas e suas atividades no Sistema Nervoso Central.
Nicolelis diz que parceria será ampliada
Em nota publicada, na última terça-feira (09) no site do Instituto Internacional de Neurociências de Natal (IINN-ILS) o neurocientista Miguel Nicolelis afirmou que a parceria com a UFRN está mantida e que "em momento oportuno a Reitoria deve anunciar a ampliação da parceria". Nicolelis fez questão de reforçar, na nota, que "o Campus do Cérebro é apoiado pela UFRN a partir parceria firmada há quase 8 anos com a Aasdap".
Nicolelis afirmou, na nota, que "a importância estratégica da AASDAP pode ser avaliada por suas fontes de financiamento". A associação obtém no Rio Grande do Norte 1/3 de seus recursos a partir de convênios e termos de parceria, apoiados no compromisso dos Ministérios da Ciência e Tecnologia, Saúde e Educação e 2/3 de sua captação total de recursos de fontes de financiamento privadas nacionais e estrangeiras.
Ele ressaltou que os recursos levantados para as obras do Campus do Cérebro (R$ 36 milhões) e para destinados ao 'enxoval' dos 12 pesquisadores aprovados no concurso da UFRN (R$ 6 milhões) foram pleiteados e conseguidos pela parceria AASDAP/UFRN junto ao MEC e estão sendo transferidos do MEC diretamente para a UFRN.
Em entrevista à TN o pró-reitor de Administração, João Batista de Bezerra, disse que essa parceria será bem definida no novo termo de cooperação, que está em elaboração por um grupo de trabalho criado pela reitora Ângela Paiva. "Estamos reavaliando todos os investimentos, termos de gestão e de contratos", informou. Segundo o pró-reitor, hoje o projeto Campus do Cérebro está sob a tutela da UFRN, por causa do termo de cessão do terreno e da parceria com a Aasdap, mas os prédios em construção, por estarem sendo erguidos em terreno da UFRN e, principalmente, com recursos públicos, serão incorporados ao patrimônio da UFRN.

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