Seminário discute soluções para o estabelecimento da cadeia produtiva de terras-raras no Brasil

Publicado em 09 de dezembro de 2011 às 10h07min

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Apontada como a "Arábia Saudita das terras-raras", China é a maior exportadora desses elementos.
Encontrar maneiras de se estabelecer a cadeia produtiva de terras-raras (TR) no Brasil foi o objetivo principal do 1º Seminário Brasileiro de Terras-Raras, promovido pelo Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) e pelo Ministério de Minas e Energia (MME), nesta quarta (7) no Rio de Janeiro. "Nosso objetivo neste seminário vai além das terras-raras; é uma oportunidade de fazer com que o País tenha um futuro brilhante", afirma Osvaldo Antonio Serra, professor da Universidade de São Paulo (USP) e um dos organizadores do evento.
Francisco Eduardo de Vries Lapido-Loureiro, pesquisador emérito do Cetem, abriu sua palestra citando um pesquisador francês que afirmou que as terras-raras serão, para o século 21, o equivalente ao que o petróleo foi para século 20 e o que o carvão foi para século 19. "Uma nova revolução industrial", comparou.
Lapido-Loureiro apresentou uma série de dados, em que o Brasil aparece como produtor de 650 toneladas por ano, supostamente com reservas de 18.000t e reservas base de 89.000t, enquanto a China, principal provedor de TR, atualmente produz 120.000t, tem reservas de 27 milhões de toneladas (Mt) e reservas base de 89 Mt, ou seja, produz 97% do total mundial (124.000 toneladas). "A China se tornou a Arábia Saudita das terras-raras. Ou ainda mais, pois a Arábia Saudita tem concorrentes no mercado do petróleo e a China, não", acrescenta Iran Ferreira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Não é novidade que o Brasil queira voltar a ser um grande produtor de TR, conjunto de 17 elementos químicos utilizados para aplicação em alta tecnologia - presentes em minérios como a monazita, a bastnaesita e a xenotima (maiores fontes de TR). Muito antes da existência de ímãs que transformam energia elétrica em mecânica, smartphones, tablets, fibras óticas e trens-balas (produtos cuja elaboração depende das terras-raras), o País já explorava essa seara. Chegou a ser o principal produtor delas e começou sua exploração ainda no século 19.
Contudo, foi durante a segunda metade do século 20 que a produção foi intensificada, sendo realizada pela Orquima (1946 a 1962), pela Comissão Brasileira de Tecnologia Nuclear - CBTN (1962-1966), pela APM/CNEN (1966-1972), pela Nuclebrás (1972/1992), que criou em 1976 a subsidiária Nuclemon, até chegar finalmente ao comando da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), conforme detalhou Adriano Maciel Tavares, da INB, em seu histórico da produção de TR no País.
"Trabalhar com terras-raras sempre foi complicado, mas sempre houve pesquisa", destaca Tavares, lembrando fatos históricos como a geração de carbonato de neodímio pela Nuclemon em 1986, que permitiu que a Unicamp construísse o primeiro protótipo de laser. No entanto, Osvaldo Serra, em um balanço das palestras, alertou para a necessidade de criar-se um órgão que "vista a camisa" exclusivamente para as TR. "O grande problema é que a INB não tem como principal objetivo a produção de terras-raras. Apesar de seu esforço, não houve continuidade da Orquima e começamos a perder ou pelo menos estagnar nossa tecnologia", opina.
Entrar na cadeia - A grande diferença agora é que o Brasil não deseja apenas exportar esses elementos, mas também participar de toda a cadeia produtiva. "Se este seminário tivesse acontecido dez ou vinte anos atrás, talvez a preocupação fosse exportar os concentrados crus. Hoje, há a intenção de tentar viabilizar a cadeia produtiva não só das terras-raras, mas também de outros minérios. É um avanço", opina Fernando Lins, diretor do Departamento de Transformação e Tecnologia Mineral do MME e relator do Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) sobre minerais estratégicos, que envolveu o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o MME.
Lins apresentou algumas recomendações do GTI para as terras-raras, tais como a criação de uma coordenação para o desenvolvimento do segmento; um estudo prospectivo com a participação da academia, de institutos de pesquisa e do setor empresarial; outro levantamento geológico; um programa de PDI; e a integração em projetos de inovação e articulações público-privadas.
Catalão (GO), Araxá (MG), Pitinga (AM) e Poços de Caldas (MG) são depósitos de terras-raras, que apresentam mais de 30 ocorrências no País, como na Região de São João Del Rei (MG). Foi na Bahia, em Cumuruxatiba, onde começou a exploração das areias monazíticas, em 1886.
Estratégias do MCTI - Elzivir Guerra, coordenador de recursos minerais do MCTI, afirma que o ministro Aloizio Mercadante lançará, nos próximos dias, dentro do Conselho de Ciência e Tecnologia, a estratégia nacional de C,T&I e que ela levará em conta a produção das terras-raras. "Um dos desafios da estratégia é estabelecer e consolidar a liderança do Brasil na economia do conhecimento de recursos naturais. Dentro desse desafio, está a retomada e a implantação da cadeia produtiva de terras-raras, elencadas como prioridade". A estratégia será para os próximos quatro anos, com plano de ações que envolvem um plano de PDI para minerais estratégicos. Guerra anunciou também a possibilidade da criação de uma rede de centros de inovação para tecnologias de produção e uso de terras-raras.
"O que a China fez nos anos 90 nós teremos que fazer agora", resumiu Lucy Chemale, do CPRM - Serviço Geológico do Brasil. Ela revela que o órgão pretende organizar visitas aos principais depósitos de terras-raras do mundo e propor o intercâmbio a partir de equipes multidiscilplinares.
Christian Hocquard, representante do Bureau de Recherches Géologiques et Minières, o serviço geológico da França, relatou a produção e uso de terras-raras em seu país e chamou a atenção para o fato de que a mistura de produção (ou a não-padronização dela) ao redor do mundo contribuiu para um desequilíbrio entre a produção de terras-raras pesadas (insuficientes frente à demanda) e a de terras-raras leves (excedentes). E apresentou algumas razões limitadoras da produção em geral, como a dificuldade de separação e purificação dos elementos, a radioatividade dos resíduos e os diferentes preços de comercialização dos 17 elementos. Entre as soluções a curto e médio prazos, ele sugere a estocagem estratégica e os chamados "3 R" (reduzir, reutilizar e reciclar).
Como resultado prático do encontro, os organizadores pretendem criar um documento com síntese das conclusões e recomendações do seminário, que servirá de referência para a futura política de governo do setor mineral brasileiro e será encaminhado ao MME.

Jornal da Ciência

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