"A UFRN faz a sua parte: treina, capacita, pesquisa"

Publicado em 13 de novembro de 2012 às 10h28min

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 Para o diretor do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Graco Melo, o RN possui potencial para crescimento nas mais diversas áreas da aquicultura. "Há sem dúvida potencial para a carcinicultura, isso desde sempre, porque foi a nossa primeira vocação; para a piscicultura no interior, com a quantidade de corpos d´águas que temos; a piscicultura marinha, inclusive em mar aberto; e o cultivo de ostras, algas, mariscos, etc", diz o professor da UFRN. Mesmo com o potencial, somente o cultivo de camarão tem tido destaque no Estado, enquanto que os outros ainda carecem de investimento.
A produtividade das mais diversas áreas da aquicultura será abordada no Projeto Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte, realizado pela TRIBUNA DO NORTE, Salamanca Capital Investments, UFRN, Sistema FECOMERCIO/RN e Sistema FIERN, com patrocínio do Sebrae, Companhia das Docas do Rio Grande do Norte, Associação Brasileira de Criadores de Camarão, Associação Norte-Riograndense de Criadores de Camarão e da Assembleia Legislativa do RN. O tema será PESCA, AQUICULTURA E CARCINICULTURA. O Seminário, quarta edição de 2012, será realizado no próximo dia 19 de novembro, no auditório da Fiern, às 8h.

Este é o quinto ano do projeto Motores do Desenvolvimento e o tema Pesca, Aquicultura e Carcinicultura o 16º tema trabalhado desde que o início, em 2008. Outras temáticas, como indústria, inovação e tecnologia, educação, turismo, já foram abordadas pelo Motores do Desenvolvimento. As inscrições são gratuitas e já estão abertas, porém as vagas são limitadas. Para se inscrever, é necessário ligar para os telefones 4006.6120 ou 4006.6121, durante o horário comercial.

O setor produtivo e os órgãos ambientais estão sempre discordando a respeito da pesca da lagosta. Quem tem razão?

Vou falar cientificamente. A questão do defeso não é feita aleatoriamente. Há uma base científica para isso. A questão da lagosta passa pela preservação do estoque. O Ibama faz cumprir portarias e legislação. Se você tudo liberado, o seu neto não iria ver a lagosta a não ser por fotografia. O que a Universidade prima, nesse caso, é pelo seguinte: quais os estudos que basearam para se fizesse o defeso? Essa briga com o órgão ambiental passa pelo desconhecimento da ciência. Pelo que eu acompanhei, para que os estoques fossem recuperados seria necessário se fazer um defeso muito maior. Seria necessário fazer como a Austrália, que parou por alguns anos a captura para repor o estoque. Mas se você disser isso para o setor produtor, vira uma briga. Se não houvesse regras, seria complicado. E as regras existem por conta de práticas equivocadas, como o uso do compressor, que faz mal ao ecossistema e à saúde humana.

Países asiáticos como a China e o Vietnam acabam produzindo mais. Em contrapartida, eles têm leis ambientais mais frouxas. São um exemplo a ser seguido?

Não é possível comparar os parâmetros de preservação existente no continente asiático com o que existe no Brasil. Eles têm um objetivo muito claro: alimentar as pessoas, produzir comida. A China é o maior produtor de carpa, mas se você observar uma área de cultivo não vai nem conseguir distinguir o que é buraco, poça de lama, etc. E eles produzem pescado naqueles locais. Então, as leis da China não se aplicam ao Brasil. O Código Florestal veio para ajudar e a legislação é muito boa. Mas precisa ser cumprida por um lado e respeitada pelo outro. Também é necessário ter órgãos ambientais mais bem aparelhados, capazes de dar respostas rápidas. Há uma grande dificuldade de liberar as licenças. Não tem cabimento um produtor pequeno que tem cinco hectares demorar seis meses para obter uma licença.

A demora na concessão das licenças é o maior problema?

A maior reclamação que eu vejo. As licenças demoram. As respostas precisam ser rápidas e não para daqui a seis meses. Os produtores têm razão quando cobram agilidade. O pequeno carcinicultor tem que se sentir amparado e para isso é preciso mostrar a forma correta de se fazer. Trata-se de um setor fundamental para a economia. Quem é da área de aquicultura sabe o que é visitar um lugar onde se investe nesse setor. O Mediterrâneo, por exemplo, está cheio de fazendas de piscicultura marinha. Enquanto isso, o Atlântico não tem uma.

Por que não há aquicultura marinha no Brasil?

Os passos ainda estão muito lentos. Está começando. Tivemos uma que foi desativada em Pernambuco. Mas eu acredito que é uma das principais alternativas que nós temos, tendo em vista o potencial existente. O cultivo em mar aberto é uma alternativa muito boa.

Acontece o mesmo com a piscicultura de água doce?

A piscicultura de água doce também está no início. Eu fico feliz porque os primeiros parques aqüícolas vão funcionar. Já se poderia estar fazendo isso. Tivemos vários módulos experimentais nessa área, mas até agora não saiu muita coisa do papel. Você vai aqui vizinho, no açude Castanhão, no Ceará, e está lotado de projetos de piscicultura. Então, estamos atrasados. Não sei porque estas coisas não andam mais rápidas. A UFRN faz a sua parte: ela treina, capacita, pesquisa, põe bons profissionais no mercado de trabalho.

O que é necessário para conseguir produzir em água doce sem causar problemas?

Você precisa respeitar a capacidade do ecossistema, o que cada corpo d´água permite, para que não se crie um problema. E também a legislação, no que diz respeito ao manejo, ao tipo de ração.

Existe muita reclamação acerca dos limites para fazendas de peixes em açudes.

A portaria, que definiu 1% da lâmina d´água, ficou na segurança mínima, primou por essa segurança. Pela experiência que eu tenho, há áreas que suportam muito mais que 1% e outros que 0,5% seria comprometedor. Mas foi o que o Governo encontrou, baseado em alguns estudos, para regulamentar o setor. E dá para fazer alguma coisa.

Mas esse limite é mesmo muito rigoroso?

Eu acho muito baixo. Mas eu precisava ter mais elementos para dizer: pode aumentar até certo limite. Se você não fizer dentro da capacidade de suporte, vai ter problemas. Na China e no Vietnam, há áreas completamente degradadas e improdutivas. No começo, essas áreas tiveram cultivo intenso e hoje estão improdutivas.

Entre tantas possibilidades de exploração econômica, em qual área há maior vocação do RN? Ou todas podem ser exploradas igualmente?

Há sem dúvida potencial para a carcinicultura, isso desde sempre, porque foi a nossa primeira vocação; para a piscicultura no interior, com a quantidade de corpos d´águas que temos; a piscicultura marinha, inclusive em mar aberto; e o cultivo de ostras, algas, mariscos, etc.

O que mudou no modo de produção da carcinicultura?

Os cultivos estão muito mais extensivos que intensivos. Eu lembro que no fim da década de 90, a atividade era assustadora no Estado. Tinha a maior produtividade do mundo. Hoje, os carcinicultores que trabalharam bem continuam aí. Havia um falta de ordenamento. Mas do ponto de vista empresarial o divisor de águas foi o dumping e a baixa do dólar. Diminuiu o mercado de exportação e sobrou o mercado interno. Há um camarão de boa qualidade sendo oferecido de forma competitiva. Acredito que o camarão será sempre o principal produto da atividade de aquicultura no Rio Grande do Norte. Não vejo como ser diferente. Pode vir a piscicultura no interior e marinha depois disso. Mas o camarão será o maior, mesmo que haja espaço de crescimento para todos as áreas.

O que a Universidade treina em termos de recursos humanos e que pesquisas existem?

A UFRN cumpre o seu papel. Ela forma o técnico em aquicultura na Escola de Jundiaí, o engenheiro de aquicultura no Centro de Biociências. A UFRN tem hoje o maior número de profissionais qualificados na área, sendo que quase todos doutores. Não há outra instituição no Estado com tantas pessoas qualificadas. Há vários especialistas, inclusive com liderança nacional. Então, a UFRN forma recursos humanos, faz pesquisa nas mais variadas áreas, como de genética, biologia molecular, bioquímica, crescimento, teste com espécies, tudo direcionado para a aquicultura. O maior projeto de piscicultura em tanque escavado é coordenador pela UFRN. Temos o Centro de Tecnologia do Aquicultura, que é um local para a pesquisa. O Departamento de Oceanografia faz 50 anos agora em novembro, então a Universidade fez parte dessa história: o peixamento dos açudes, os primeiros trabalhos com algas, os tanque redes, etc.

Fonte: Tribuna do Norte

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