Cientistas identificam o mais antigo dinossauro conhecido

Publicado em 06 de dezembro de 2012 às 11h07min

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 Cientistas identificaram o que acreditam ser o representante mais antigo da família dos dinossauros. Batizado Nyasasaurus parringtoni, ele viveu no período do Triássico Médio, há cerca de 245 milhões de anos, na região Sul do supercontinente de Pangeia, hoje Tanzânia, na África. A descoberta adianta em aproximadamente 10 a 15 milhões de anos o aparecimento destes répteis pré-históricos, que antes achava-se que só tinham surgido na época do fim do Triássico Médio e início do Superior, 230 milhões de anos atrás, com suas primeiras espécies mais conhecidas, o Eoraptor e o Herrerasaurus.
"Se o recém-batizado Nyasasaurus parringtoni não é o mais antigo dinossauro, então ele é o parente mais próximo encontrado até agora", afirma Sterling Nesbitt, pesquisador da Universidade de Washington, EUA, e principal autor de artigo com a descrição do animal, publicado hoje no periódico "Biology Letters", editado pela Royal Society.
"Durante 150 anos, algumas pessoas sugeriram que deveriam haver dinossauros no Triássico Médio, mas todas as evidências eram ambíguas. Alguns cientistas usaram pegadas fossilizadas, mas agora sabemos que outros animais daquela época tinham patas similares. Já outros apontavam uma única característica parecida com as dos dinossauros em um único osso, mas isso pode ser enganador porque estas características evoluíram em numerosos grupos de répteis e não são resultado de uma ancestralidade comum", afirma.
Embora o fóssil do Nyasasaurus tenha sido encontrado nos anos 30 na região do lago africano de Nyasa (hoje Malawi) pelo pesquisador britânico Rex Parrington, que lhe emprestaram o nome, seus ossos só começaram a ser estudados nos anos 50 pelo falecido paleontólogo Alan Charig, que não conseguiu concluir e publicar seu trabalho antes de morrer. Desde então, o fóssil - parte do úmero, osso de um de seus membros superiores, e seis vértebras - ficou guardado no Museu de História Natural de Londres e só recentemente foi redescoberto pelos cientistas, que reconheceram o esforço de Charig concedendo-lhe a coautoria póstuma do artigo na "Biology Letters".
"Este trabalho destaca o papel fundamental dos museus na guarda de exemplares cuja importância pode ser ignorada a não ser que sejam estudados e reestudados em detalhes", lembra Paul Barrett, pesquisador do museu londrino e outro coautor do artigo. "Muitas das mais importantes descobertas da paleontologia são feitas nos laboratórios e acervos dos museus, assim como em campo".
Segundo os pesquisadores, o Nyasasaurus parringtoni tinha a altura aproximada de um cão labrador, mas um comprimento bem maior, de dois a três metros, incluindo uma cauda de cerca de um metro, e pesava entre 20 e 60 quilos. Ainda de acordo com os cientistas, seus ossos acumulam características típicas dos primeiros dinossauros, com o tecido mostrando marcas de um crescimento acelerado. Além disso, o úmero fossilizado apresenta uma proeminência que servia para ancorar os músculos do membro superior que é considerada um traço comum e único entre os dinossauros mais antigos.
"O tecido ósseo do Nyasasaurus é exatamente como esperaríamos encontrar em um animal nesta posição na família dos dinossauros", conta Sarah Werning, pesquisadora da Universidade da Califórnia em Berkeley e responsável pela análise dos ossos. "Ele é um exemplo muito bom de um fóssil de transição, com o tecido mostrando que o Nyasasaurus crescia tão rápido quanto os outros dinossauros primitivos, mas não tão rápido quanto os mais recentes".
Para Nesbitt, mesmo que a classificação taxonômica acabe por não admitir o Nyasasaurus como o dinossauro mais antigo conhecido e apenas como um parente próximo, sua identificação estabelece uma nova cronologia para a evolução destes répteis pré-históricos e rechaça a ideia de que sua grande diversificação se deu apenas no Triássico Superior, uma explosão na variedade de espécies não vista em nenhum outro grupo da época.
Embora destaque que o Nyasasaurus não pode ser considerado o ancestral de todos dinossauros, Nesbitt diz que agora parece que estes animais fizeram parte do mesmo amplo e intenso processo de diversificação de espécies que se seguiu à a extinção em massa do fim do Período Permiano, a apelidada "Grande Morte" ocorrida há cerca de 250 milhões de anos que levou à perda de aproximadamente 90% de todas as espécies marinhas, 70% dos vertebrados terrestres e única que se sabe ter atingido até os insetos. Então, a grande ordem dos arcossauros, animais que passaram a dominar a superfície de Pangeia, dividiram-se em famílias que deram origem, entre outros, aos dinossauros e aos atuais crocodilos e aves.

O Globo

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