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Publicado em 28 de junho de 2009 às 13h23min
Tag(s): Diversos
As universidades voltam ao centro da mídia nacional. Em matéria de capa, Veja (Ed. 2108), que ora circula, dá como favas contadas à imposição governista do vestibular unificado. Também na capa, mas da penúltima ed. de Época (Nº 568), foram apresentadas duas matérias relacionadas às universidades: 1ª) o vestibular unificado; 2ª) as "cotas para negros, índios ou pobres". Entre as matérias de Época, há uma contradição a ser explorada.
Quanto ao novo vestibular, aquela revista só vê pontos positivos na proposição do autoritário governo Lula/PT. O veículo não apresenta contra-argumentos. Além de ilustrações, sub-repticiamente, dá voz apenas ao MEC para reforçar supostas vantagens.
No tocante às cotas, prestes a se tornar lei, Época se opõe a isso. Mas a questão não está em um momento editorial se opor e noutro aceitar projetos do governo. O problema (ou a solução!!!) se apresenta quando a contradição é interna ao veículo; quando o conteúdo de uma reportagem anula a essência da outra. Isso ocorre no último parágrafo da matéria sobre cotas. Lá é dito: "A doença da educação ruim não será resolvida com mudanças no vestibular, menos ainda com a adoção das cotas...". Está correta a revista.
No lead (resumo) da mesma matéria é dito que "Reservar vagas para negros, índios ou estudantes pobres nas Universidades públicas não resolve uma injustiça histórica - e cria ainda mais problemas". Dos argumentos, destaco a voz de "José Roberto Militão, militante há 30 anos do movimento negro, contrário à instituição das cotas". Ele, depois de apontar que fundações dos EUA (Ford, Rockefeller, MacArthur) financiam trabalhos acadêmicos afins em universidades brasileiras, diz: "O Brasil nunca teve orgulho racial, nunca foi dividido. Os EUA sempre foram assim. O movimento negro vê isso como um dado negativo, mas é positivo". Diz mais: "Aprovar um projeto de cotas raciais é ir na contramão... O excluído pela cota vai debitar isso na conta do negro". A reportagem complementa: "Esses excluídos formariam, portanto, um caldo de cultura para o racismo".
Concordo; e comento por parte. Sobre o vestibular, a afirmação de Época vai ao encontro do que eu disse em meu último artigo: "...nenhum tipo de vestibular reverterá esse quadro (tragédia do ensino); muito menos o proposto pelo ministro. Aliás, ao contrário; a proposição aponta para o reforço do desconhecimento. Na essência, ao se falar em "...forma inteligente, que julgue a capacidade analítica dos estudantes..." esconde-se a verdade do caos na educação... Um estudante só consegue analisar alguma coisa quando dispõe de conteúdos para isso. Infelizmente, a escola tem sonegado o saber, inclusive um bom ensino de língua materna. Sem isso, não se vai a canto algum. Mais: quando o MEC fala em promover "...mudança na atuação em sala de aula do professor...", nas entrelinhas, aponta para o "desencorajamento" do professor que ainda insiste em ensinar".
Quanto às cotas, desde o início de 2004 venho me posicionando publicamente contrário. Em um ensaio que circulou internamente na UFMT - "O engodo das políticas compensatórias através das sobrevagas ", destaquei que sobrevagas e/ou cotas pertencem ao universo amplo das políticas compensatórias, ou seja, daquelas estratégias neoliberais herdadas - como luva - pelo governo Lula/PT de seus antecessores Collor e FHC.
Entre outros argumentos, disse que, na perspectiva histórica, no Brasil colonial, as primeiras práticas que lembram as compensações ocorriam quando os da casa grande davam suas sobras aos da senzala. Numa metáfora, eram as sobras dos farelos caídos para muitos de uma mesa farta preparada para poucos. Com as sobras de alguns tipos de alimentos, os escravos, que continuavam na condição de escravos, no limite, se mantinham revigorados para a não-interrupção dos trabalhos. A compensação por meio de coisas elementares era mero interesse na manutenção daquele regime.
Infelizmente, a mesma lógica colonial vale para hoje. Defender cotas, portanto, é defender a manutenção do status quo, camuflando a real necessidade de enfrentamento com o establishment. É defender uma sociedade de grupos, não de classes sociais. É perder a noção do todo para o benefício da parte. É coadunar com a ideologia. É ser conservador, supondo-se avançado na luta. É enganar o outro em igual proporção de seu engano político.
* ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ, Dr. em Jornalismo/USP. Prof. de Literatura da UFMT