Documentos mostram amplitude da rede montada pela repressão para perseguir trabalhadores

Publicado em 04 de setembro de 2013 às 08h37min

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A primeira análise feita nos documentos localizados pela Comissão Nacional da Verdade em cinco acervos do Ministério do Trabalho em Brasília demonstra a amplitude da rede montada pela repressão para perseguir trabalhadores.

A rede era integrada pelas DSIs e ASIs, espécies de sucursais do SNI no ministério e nas delegacias regionais do trabalho, pelos interventores e ou agentes infiltrados nos sindicatos e por empresas que contribuíam com informações sobre seus empregados aos agentes do governo.

Hoje à tarde a CNV apresentou ao coletivo de apoio ao Grupo de Trabalho Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical, composto por sindicalistas de todas as centrais sindicais brasileiras, e à imprensa um resumo sobre a missão de reconhecimento, ocorrida semana passada, nos acervos localizados no Ministério do Trabalho.

A busca nos acervos do Ministério do Trabalho era uma reivindicação dos sindicalistas e a existência desses acervos era indicada por historiadores, mas o acesso pleno de pesquisadores ao material ainda não havia ocorrido.

Três dos cinco acervos ficam na sede do Ministério, em Brasília: o arquivo geral, o arquivo do gabinete do ministro e o arquivo dos processos de anistia do Ministério do Trabalho. Os outros dois arquivos ficam em um depósito nos arredores da cidade e no centro de referência Leonel Brizola. Apenas em um dos acervos há 6,5 km de documentos lineares.

DOCUMENTOS – Entre os documentos se encontram informações sobre cassações de líderes de trabalhadores, registros da intervenção do governo em sindicatos e documentos detalhando a repressão às greves que eclodiram no final dos anos 70 e começo dos anos 80 e que foram parte fundamental do processo de redemocratização do país.

Os documentos mostram uma rede de correspondências entre a DSI (filial do SNI) do Ministério do Trabalho com outros ministérios, correspondência das ASI (sucursal das DSIs) das Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs) e o Ministério. "Juntos, estes documentos podem compor um panorama e a identificar padrões de repressão", afirmou Rosa Cardoso.

Entre os documentos já foram localizadas duas caixas contendo fichas sobre diretores de sindicatos cassados. O Arquivo Nacional vai ajudar na classificação e higienização do material localizado no Ministério do Trabalho, o que será fundamental para facilitar o acesso de pesquisadores da CNV e de qualquer outra instituição interessada.

Os documentos localizados no ministério do Trabalho somam-se a documentos encontrados no Arquivo do Estado de São Paulo pelos sindicalistas que demonstram a colaboração de empresas com a repressão. Documentos indicam que muitas empresas passavam a lista de grevistas ao governo ditatorial, inclusive dados pessoais constantes em suas fichas funcionais.

REUNIÃO – Na reunião da GT e o grupo de apoio foi fechada uma grande agenda de eventos nacionais e unitários (envolvendo o maior número possível de centrais sindicais) para sensibilizar trabalhadores para a luta por memória e verdade.

A agenda prevê um ato em outubro para relembrar a perseguição logo após o golpe de 1964 ao Comando Geral de Trabalhadores, a CGT, embrião das centrais sindicais; uma audiência pública no dia 7 de outubro para relembrar os 50 anos do massacre de Ipatinga, em Minas Gerais; uma audiência em Santos, em novembro, sobre a repressão a trabalhadores na Baixada Santista, em parceria com a Comissão da Verdade de Santos; e um ato sobre a Greve de 1968, em Osasco. Uma reunião de sindicalistas cassados e perseguidos da Capital e da Região Metropolitana de São Paulo deve ocorrer no final de novembro.

Outra meta do coletivo de apoio é divulgar amplamente os 11 pontos prioritários do GT Trabalhadores, construídos em conjunto pelas centrais e a CNV, em eventos das centrais e dos sindicatos. 

Fonte: Comissão Nacional da Verdade

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