Pesquisadores criam aplicativo para tradução da única língua viva descendente do Tupi

Publicado em 01 de setembro de 2022 às 16h56min

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Quando os portugueses invadiram o Brasil, por volta de 1500, notaram que o Tupi era a língua mais falada em toda a costa. Ao invés de ensinarem português para os habitantes locais, os relatos mostram que inicialmente eles resolveram aprender o Tupi e utilizar essa língua como uma língua geral.

Assista ao vídeo:

A partir daí, aquele Tupi que era usado nas aldeias passou a ser usado em comunidades e pequenas cidades, tornando-se a língua principal da colônia, utilizada também pelos portugueses e suas famílias. Então, o Tupi foi mudando e se transformou em várias línguas gerais. Os especialistas acreditam que havia três línguas gerais, no entanto duas se extinguiram por completo.

Devido às condições da própria Região Amazônica, uma dessas línguas gerais que surgiu a partir do Tupi existe até hoje. Trata-se do Nheengatu, também conhecida como Tupi-moderno, língua geral amazônica ou “língua boa” na tradução Tupi.

O Nheengatu, que já foi falado em toda Região Amazônica, até meados do século XIX, atualmente limita-se ao município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, e tem apenas 6 mil pessoas falantes.

Para que a língua geral amazônica, o Nheengatu, não seja extinta, um grupo de pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC) elaborou uma tecnologia que, por meio de ferramentas computacionais, serve como um tradutor automático da única língua viva descendente do Tupi antigo.

O professor da UFC Leonel Araripe é o responsável pela ferramenta. Segundo ele, seus estudos têm como objetivo a compreensão do funcionamento de línguas naturais e o desenvolvimento de ferramentas de processamentos de linguagem.

“Há cerca de três anos eu constatei que não havia nenhum tradutor automático para línguas indígenas brasileiras. Esse tipo de ferramenta é extremamente importante para a sobrevivência de uma língua, porque com o tradutor automático as pessoas podem escrever textos na língua indígena e traduzi-lo numa língua majoritária, no caso do Brasil: o português. O processo inverso também pode ser feito: textos em português podem, então, ser traduzidos com tranquilidade para a língua indígena”, afirmou Leonel.

O tradutor que ainda está em fase inicial, se chama Grammyep, e além de traduzir sentenças do Nheengatu para o português, também se traduz para o inglês e vice-versa. “É uma ferramenta inicial limitada a predicação qualificativa, ou seja, traduz apenas sentenças que expressam propriedades, estados, qualidades, localizações, pessoas e coisas. no entanto, já implementa parte da alta complexidade gramatical da língua Nheengatu”, explica Leonel.

A ferramenta está disponível para download na Internet e pode ser usada em aplicativos de comunicação. Mesmo sendo uma ferramenta ainda em estado inicial, o tradutor é uma tecnologia essencial para que se perca o que restou da cultura dos povo originários após a chegada dos portugueses.

Fonte: BdF Pernambuco

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