Morrer lutando ou aguardando, inerte, a vacina?!

Publicado em 01 de junho de 2021 às 11h41min

Tag(s): Artigo



Por Gilka Pimentel*

No último dia 29 de maio, milhares de pés foram às ruas em várias capitais do país, inclusive Natal. A situação no Brasil chegou no limite do que é suportável! Por essa razão, tivemos que assumir o risco da exposição e ocupar as ruas para defender as nossas vidas. Não pense você que o que estamos vivendo se trata de uma fatalidade; o que temos é, sem dúvida, um projeto de poder autoritário e desumano empreendido por um presidente que, em coerência com o que sempre demonstrou ser, virou as costas para o seu povo, negando empatia com a dor do outro, não fazendo jus ao cargo para o qual foi eleito.

Com mais de 460 mil mortes e um cenário de descontrole da pandemia, seguimos rumo a meio milhão de pessoas assassinadas por um vírus que já tem a vacina como resposta eficaz. Faltou atitude, presidente! Milhares dessas mortes poderiam ter sido evitadas!

Eu nunca imaginei, confesso, assistir o povo brasileiro vivenciar tal dilema: morrer lutando, se expondo nas ruas, protestando contra um governo genocida? ou ficar em casa, inerte, mas respeitando as orientações de isolamento social, aguardando uma vacina que talvez também chegue até mim, até nós, tarde demais?

Abandono. Sabotagem. Desumanidade. Não estamos mais suportando que as nossas vidas sejam tratadas assim!  Milhares de pessoas não puderem fazer distanciamento físico, pois tiveram que ir trabalhar, pegar transporte público lotado diariamente. No que diz respeito à realidade natalense, vale destacar que tanto os empresários locais quanto o prefeito da cidade e alguns parlamentares parecem viver uma realidade paralela, tornando alguns serviços essenciais e ignorando problemas como o do transporte público em Natal.

A que ponto chegamos!?  Vamos morrer esperando vacina, com o risco constante de ser acometido pela COVID-19? Vamos morrer de prato vazio, aguardando um auxílio emergencial decente? É mesmo uma opção aguentar e esperar, torcer que dias melhores cheguem até nós sem luta, sem resistência?

Para algumas categorias é possível, sim, ficar em casa trabalhando remotamente - como é o caso de nós, professores -, mas para milhares isso não foi e segue não sendo possível. Que tragédia estamos vivendo! A banalização do mal, da morte! Vidas perdidas não podem ser tratadas como uma questão estatística, numérica. Vidas foram ceifadas! São milhares de pais que perderam seus filhos, filhos que perderam seus pais, irmãos, parentes, amigos... Entre morrer aguardando que o cenário mude, ou assumir o risco de morrer lutando, por você, pelo outro, qual seria a sua escolha?

 

*Gilka Pimentel é professora do Núcleo da Infância da UFRN e vice-presidenta do ADURN-Sindicato

ADURN Sindicato
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